Curte o quê?
O sentido inicial da principal questão gay, entre homens, e clichê, parece ser a posição sexual ou, em palavras mais precisas, o comportamento durante o sexo anal, se o parceiro será insertivo ou receptivo, no linguajar da sexologia ou jargão da psicologia, aludindo aos papéis sexuais, derivados dos verbos 'inserir' e 'receber'.
Inicial, pois é nítido que existe uma grande variação de interpretação, mesmo quando não tratamos de coito anal, apenas comportamento ou, ainda, julgamento.
Adianto que, para muitos, esta divisão de mundos entre quem "come" e quem "dá" é, no mínimo, irritante, entendo a sexualidade e as relações sexuais passando por um mar de outras coisas, além do sexo anal. Afinal, temos cinco sentidos e todos fazem parte do nosso erotismo, logo, das nossas fantasias e satisfação sexuais. Relacionado: OS 5 SENTIDOS E 5 DICAS PARA ATIVAR SUA SENSUALIDADE
Sem falar que, segundo as pesquisas, a maioria é "versátil" (ou "flex", numa referência ao "motor flex", "total flex"), o que geralmente vai depender 'com quem' e do momento ou situação. Há homossexuais que podem transar nas duas posições, seja durante a mesma relação ou se posicionando conforme cada parceiro.
Voltando aos padrões construídos socialmente, seja para mera identificação ou gíria, as conversas entre gays sobre o que é "ativo" ou "passivo" podem extrapolar o sentido quase óbvio, porém, limitado ao sexo anal e, talvez, a um momento. Já que não vai caracterizar todo um indivíduo e seu comportamento com tal detalhe.
Teste Passivo ou Ativo?
Explicando ainda mais, há "ativos" dos mais viris até os mais efeminados, incluindo travestis e transgêneros. Também há "passivos" em todas as masculinidades ou feminilidades, onde há quem arrisca em dizer que "meter, meto em mulher, com homem quero é dar", já numa ideia de transgressão àqueles padrões ou papéis masculinos e femininos, construídos no ambiente social ou na nossa cultura. Sim, a transgressão ou troca de papéis pode sim ser muito erótica, especialmente para os homens, sempre ávidos por uma comidinha diferente, por novidade ou por fazer algo incrível, fora do convencional.
Mas ainda estamos falando de "posição sexual". E quando o então rótulo de "ativo" ou "passivo" se refere ao comportamento ou até aparência? É o que percebo em diversos grupos de conversas entre homens homossexuais, onde, repetidas vezes, a primeira pergunta ou é "curte o que?" ou "atv ou pas?", o que seria a mesma pergunta: 'você dá ou come?', como se fosse o mais importante ou, pelo menos, o mais urgente a se saber, antes de iniciar qualquer paquera.
Além da redução do parceiro sexual gay em um pênis ou um ânus, o que, volto a dizer, irrita muitos, tem aqueles que vão além, referindo-se à aparência. Desenhando de novo, um "ativo" seria o "bofe", o "boy", aquele homem másculo, no sentido mais agressivo e bruto, com "cara e jeito de hétero". Ou "ultra discreto", também por passar batido, como "heterossexual", em sua vida social. É onde aparecem muitos dos bissexuais, ainda que, na cama com outros homens, sejam "passivos".
A origem de toda abrangência em uma única terminologia vem com o padrão heterossexual, onde o homem penetra a mulher e, na tentativa de replicar estas posições ou papéis, os gays, incluindo mulheres, ainda costumam trazer para o campo homossexual. A velha pergunta do desavisado de "quem é o homem e quem é a mulher da relação?" traz desde o sentido inicial, se insertivo ou receptivo, até os papéis de homem ou de mulher, padronizados pela nossa história.
Numa relação homossexual ou homoafetiva entre homens, certamente haverão papéis padronizados como "de homem" ou "de mulher", mas com pouca ou nenhuma relação com o conjunto da obra ou a ver com a identificação de toda uma pessoa ou gênero. Um homem gay que cuida da casa, enquanto seu marido vai trabalhar fora, não significa que ele é a "mulher da relação", muito menos que seja o "passivo" entre o casal.
O motivo de provocar, neste texto, com 'irritam' ou 'ainda costumam', 'maioria', é para dizer que as construções sociais ou culturais não são estáticas, ainda que duráveis por séculos, são dinâmicas. O mundo gira, o homem muda e as construções de sentido, rótulos ou categorizações também vão mudando com o tempo.
Cada vez mais evitamos falar em homem como sinônimo de másculo e associar másculo automaticamente ao masculino, e assim por diante.
Há uma movimentação para a pluralidade e é por isso que falamos em diversidade sexual, de gênero, identidade de gênero. Falamos em masculinidades, feminilidades, sexualidades e, por que não, heterossexualidades ou homossexualidades?
Os status de hétero, homo ou bissexual já não mais cabem com o que cada um pode fazer com isso hoje, haja vista se tratar de coisas que fazemos na intimidade, outras que nos são intrínsecas e, principalmente, aquelas que nada têm a ver com sexo ou sexualidade.
Aí voltamos ao pé da letra, tratando o sufixo "sexual", "sexualidade" (homossexual, homossexualidade), como aquilo que fazemos e entendemos por sexo. Então, se a primeira pergunta que lhe fizerem no PV for "curte o q" ou "atv pas", saiba que o assunto é sexo. Diferente de um "fala de vc um pouco", "o que vc faz", possibilitando a ideia de uma amizade, um contato profissional ou mesmo um namoro, neste caso, homoafetivo também.
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