13 de jul. de 2016

TV: Será que devemos mesmo comemorar a cena de sexo gay de "Liberdade, Liberdade"?

Festa ou ainda não

O comentário do dia foi a cena de sexo gay na novela das onze Liberdade, Liberdade (12/07/2016). Uma comemoração LGBT por romper com o tabu em exibir, na TV aberta, uma cena erótica entre dois homens, ainda que na teledramaturgia.

Mas, infelizmente, não vi com os mesmos olhos deslumbrados, complacentes e carentes de ostentação gay. O que vi foi um oficial capacho do intendente, demostrando constantemente fraquezas e fracassos no trabalho e, talvez, afogando suas mágoas e frustrações num romance clandestino (gay). Em tempos de crise (de audiência), um vale-tudo.

Será a moral da história um enlace para um perfil negativo? Por que Tolentino não é um gay enrustido sim mas um homem de sucesso? Por que a cena sex (soft) só aconteceu após uma outra em que ele foi duramente humilhado por Rubião, com direito à tapa na cara e tudo, do tipo 'seu merda'?


Claro que, vendo apenas a tal cena de sexo gay, especialmente pelo suposto pioneirismo e tals em exibir este tipo de conteúdo (como se o povo nunca tivesse visto um pornô gay na internet antes), onde a galera reprimida e homofóbica vomita em coro, ok - enche mesmo os olhos. Mas interpretando ou lendo todo o fio da meada, fica inevitável não reconhecer ainda uma insistência em atrelar a homossexualidade a algo ruim, com alguma des-culpa para justificar algo que não teria nenhuma justificativa em si - sexualidade (incluindo homo, bi, etc.) é natural, é diversificada e não tem nada a ver com outras coisas, como personalidade, caráter ou capacitação intelectual, profissional... São aspectos independentes entre si, em cada indivíduo.

Como esta ótica vem se mantendo em todos os 'closes gays na TV', em especial na Globo, onde a mesma já havia juntado os paninhos do "carneirinho" trocado por uma mulher Niko com os do rejeitado pelo pai e vilão Félix (celebrando o suposto 1º beijo gay na TV e comemorado inclusive aqui no blog), ou o insuportável Téo Pereira, a bicha mafiosa, sem noção e transloucada. Ou ainda, mais recorrente, a figura do "ex-gay", deixando os telespectadores gays a ver navios com o final infeliz para a homossexualidade do personagem gay (geralmente eles casam os gays nas novelas com mulheres, como aconteceu com a travesti Shana Império, o ex-namorado do Niko, Eron e no triângulo amoroso entre Dália, Heraldo e Bernardinho / Duas Caras). Mostrar um personagem gay sem que o conflito seja a sua homossexualidade, isto ainda está para acontecer.





Tudo isso sem falar que continuam colocando hétero fazendo papel de gay - mirem-se no sucesso de Ferdinando e Paulo Gustavo! Os gays querem se identificar de verdade, mesmo não sendo exatamente parecidos com os personagens, mas os reconhecem em sutilezas que somente um gay poderia proporcionar. Se ator hétero (gay também) faz personagem hétero, por que não imprimir mais verdade com um ator gay, digo assumido, na façanha em fazer um personagem que só se assemelha com sua sexualidade, com todo o restante tendo até que fazer laboratório, por que não?

Aliás, quem dos atores globais é assumido mesmo? Pois é, é disto que estou falando e é isto que os apresentadores e jornalistas não comentam em suas entrevistas, ao se tratar de um ator ou celebridade gay, caso estes ainda se mantém no armário. Afinal, é de praxe perguntar aos famosos solteiros "como anda o coraçãozinho", exceto para os impedidos de terem sua homossexualidade divulgada. Estes falam só de trabalho, sem fofoca.


Não adianta criar um personagem gay e depois correr para o Faustão para 'esclarecer' que tudo não passa de atuação, com o ator se dizendo casado, pai de família e que está sendo um super desafio interpretar um gay. Não adianta só veicular beijo gay, cena de sexo ou romance gay na TV para ganhar simpatia da comunidade (clientela) LGBT. Vai depender muito mais do discurso vinculado ao feito. Coloca aí então, no meio destas histórias (que quase não se muda muito), um personagem gay herói da história! Não que todo gay deva ser ou seja um herói de alguma coisa, mas só pra ter certeza das boas intenções para com a real inclusão social e diversidade de gênero, inclusive dos telespectadores. Antes disso, continua a mesma coisa, disfarçada de "avanços".

Sinceramente não é querer ser do contra ou estraga prazeres, mas fiquei espantado por ver tão pouca gente percebendo tal jogada e tantas outras (inclusive gays) empolgados como se recebessem um presente ou favor. Lembrando que o homofóbico Baltazar seria o amante secreto de Crodoaldo Valério e, outro homofóbico, o Enrico de Império, ficaria apaixonado por outro homem e não por uma mulher (negra), como foi o desfecho (ou justificativa) para seu jeito preconceituoso.

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