24 de mar. de 2015

Adrilles e a teoria da bissexualidade enrustida

Por que os homens tem que esconder seus eventuais desejos gays?

Quem diria, Adrilles, um dos anti-heróis confinados no BBB15, chegando na reta final e com pinta de campeão! Confesso que acreditava (eu e todo mundo) que ele e sua fiel amiga Mariza seriam os primeiros a deixarem a casa – no caso dele, um homem fora do convencional “macho alfa”, sensível, culto, poeta de ofício, excêntrico, de voz fininha, como a dublagem da hiena Hardy "Oh, dia, oh, céus, oh, azar...". Mas o mineiro de BH vem se mantendo no programa, atraindo cada vez mais a simpatia das pessoas, sempre equilibrado, justo, sóbrio e paciente, mesmo durante os surtos infames de Luan e Rafael e, principalmente, por ter uma leitura do jogo como se estivesse como nós, assistindo de camarote o reality – ele acerta todas, e acertou também ao teorizar sobre o preconceito contra a bissexualidade masculina.

Conversado e com conteúdo para tal, o poeta apresentou sua teoria sobre o porquê de escondermos tanto nossos desejos homossexuais, na hipótese de sermos homens bissexuais, ainda que eventualmente. Em uma conversa na noite desta segunda-feira (23/03/2015), com Amanda e Fernando (a bunda mais gostosa desta edição), Adrilles resenhou sobre o forte preconceito que vê na intolerância frente à bissexualidade dos homens. Para o brother, geralmente as pessoas taxam um homem de gay ou enrustido apenas pelo fato deste assumir uma certa curiosidade na relação homossexual – é quando um homem, que fica ou namora predominantemente com mulheres, ou bissexual, diz que pegaria, talvez, outro macho, e sua imagem é alterada brusca e automaticamente para a de um gay.

Por outro lado, o mesmo não acontece, por exemplo, se uma mulher que namora geralmente com homens e, de vez em quando, fica também com mulheres, este comportamento não a torna uma lésbica nem enrustida. Em geral, é como se aceitássemos a bissexualidade entre mulheres e negássemos a mesma possibilidade para o gênero masculino. Há quem não acredita veemente nos homens bissexuais e ainda dizem que são todos "bibas encubadas" ou que ainda não saíram do armário.


Assim, conforme a nossa cultura romântica e conservadora (judaico-cristã), logo, machista, a bissexualidade é muito mais aceita ou vista como tal, se for praticada pelo gênero feminino. Se, dentro desta cultura, o homem deve ser forte e poderoso, não caberia este possuir desvios entre a rígida dualidade Homo / Hétero. Já para com as mulheres, ainda na mesma ideologia sexista, que as colocam na posição de submissão, os homens geralmente aceitam (e muitos até desejam), sem maiores grilos, a ideia de sua namorada ou esposa dizer que já teve ou tem relações homossexuais, sendo assim, digamos, bissexual.

Para testar a própria teoria, Adrilles então pergunta a Amanda sobre o que ela acharia se Fernando dissesse que gostaria de ficar também com outros caras. E a sister confirma o esperado, como a maioria das mulheres, respondendo que não, e ainda completando com outra questão: "Por que ele vai querer ficar com outro homem, se ele tem um mulherão desse aqui?" - apontando para ela mesma. Tirando o lado egocêntrico da réplica de Amanda, o fato desta hipótese de desejo homossexual (ou bi) ser apenas uma curiosidade ou uma brincadeira sexual experimental não livraria Fernando de ser tachado como, no mínimo, enrustido.

E o poeta provoca mais: "E se o Fernando quisesse me beijar na boca, você deixaria?" - perguntando a Amanda. "Aí eu deixo, porque você é meu amigo (gosto de você)" - respondeu ela. "Então, e os três juntos?" - cutuca mais ainda Adrilles. "Aí não, de jeito nenhum!" - disse Amanda, finalizando o assunto ainda na imaculada bolha de ciúmes.

Estas suposições realmente são feitas por nós, de maneira informal, em papo de boteco, assim como as reações da maioria: se é uma mulher respondendo, diz que teria nojo, e se for um homem, não resiste e logo assume sua fantasia sexual em estar na cama com duas mulheres.

Tabela ou Escala de Kinsey
Prevendo que a resposta para estas questões esteja mesmo no nosso relativismo cultural, que separa o bem do mal, o certo do errado, e não abre espaço para as inevitáveis nuanças, Adrilles citou na mesma conversa a Escala de Kinsey, criada por Alfred Kinsey em seus estudos sobre a sexualidade em 1948, onde seria raro os extremos hétero ou homo, com a maioria realmente dentro das possibilidades, digamos, bissexuais. Sendo assim, voltemos à pergunta inicial: 'Por que a maioria dos homens escondem a sua eventual bissexualidade?'. Segundo o poeta do BBB15, talvez seja por "receio de perder as possibilidades heterossexuais", haja vista que, se falar que tem essas vontades (gays), deixaria de ser atraente para as mulheres, além de rotulado por todos como homossexual, ainda que esta não seja a sua real identificação sexual ou sexualidade plena.

Embora haja controvérsias sobre a Escala de Kinsey, pois ela não inclui a transexualidade (Harry Benjamin propôs então a Escala de Orientação Sexual), a ferramenta de pesquisa utilizada por Kinsey tinha por objetivo comprovar que a sexualidade não é uma coisa fixa ou definitiva, podendo variar com o tempo e de acordo com as situações. A pesquisa tenta descrever o comportamento sexual de uma pessoa, ao longo do tempo e em seus episódios, num determinado momento, usando uma escala de 0 a 6, entre os significados de um comportamento exclusivamente heterossexual e outro exclusivamente homossexual. Porém, o que pegou mesmo foi a visão que prevê apenas heterossexuais, homossexuais e, no máximo, bissexuais, de acordo com a monossexualidade, onde temos apenas dois sexos: o macho e a fêmea - ou, pela origem deste mito por Adão e Eva. Veja a Escala Kinsey fazendo o teste: Kinsey Scale Test

Adrilles lembrou que os resultados dos testes realizados com a Escala de Kinsey apontam também que a maioria está no meio termo, onde a raridade ou a minoria seria mesmo a sexualidade estritamente hétero ou gay. Diante disso, podemos dizer que os homens se sentem então acuados em assumir seus desejos gays, ainda que estes sejam eventuais ou aconteçam como casos isolados, perante ao preconceito dos outros, principalmente por estar entre esses 'outros' seu objeto de desejo, também situado na escala entre o "1" e o "5". Como as mulheres são as que menos aceitariam a ideia de namorar com alguém que se diz bissexual ou que já teve relação homossexual, os homens, que gostam de mulheres, não vão se arriscar, preferindo omitir o pormenor, se este realmente for assim considerado.

Podemos estender o assunto comparando também com as rotulações relacionadas ao gênero, às aparências ou ao estilo das pessoas. Se é uma mulher máscula, do tipo Ivete Sangalo, é apenas uma mulher "de personalidade forte", sem traços de "mulherzinha", etc. Mas se for um homem, do tipo do próprio Adrilles, vão logo carimbando como uma "bichona" - e se este não se assumir como tal (ser efeminado não significa ser, necessariamente gay), ele ainda se torna um enrustido, com a galera dizendo aos gritos: "Sai do armário!".


Desta forma, Adrilles se destaca no meio de todo este debate, quebrando vários paradigmas e pré-julgamentos. Hoje tem paredão com Mariza e César, na disputa por permanecer na casa e continuarem no páreo por 1,5 milhão de reais. E pelo o que parece, a final do BBB15 será mesmo entre Mariza, Amanda e... Adrilles! O campeão? Esse já está sendo o próprio público, que está se mostrando mais atento com o conteúdo das pessoas e menos rotulante pelas aparências, que sempre enganam.

Um comentário:

  1. Eu me considero cem por cento gay,mas tenho consciência de ser raridade.O ser humano é potencialmente bissexual,já dizia Freud.

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