Tom of Finland (8/5/1920 - 7/11/1991) ou Tom da Finlândia é o nome do artista finlandês, conhecido por seu trabalho homoerótico. São dele aqueles desenhos de homens musculosos, hiper dotados, em situações de típica pegação gay, aos moldes dos anos 70 e 80. Muitos já viram, em algum momento da vida, suas imagens fantásticas, feitas apenas com grafite e papel, publicadas em revistas de sacanagem, seja em destaque, entre os anúncios, ou simplesmente na sua missão principal: a pornografia. Tom: um mestre do imaginário masculino, erótico, homoerótico e gay.
O real nome de Tom é Touko Laaksonen, porque ele nasceu no mês de maio, na costa sul da Finlândia, e Maio, em finlandês é Toukokuu. Touko nasceu em um lugar que manteve-se rústico por muito tempo. Os homens que trabalhavam nos campos e florestas, os fazendeiros e lenhadores, eram homens que carregavam a aspereza e a selvageria do campo.
Foi neste ambiente, entre esses homens, que nascia Tom of Finland, embora que ainda não fazia parte desse universo simplório. Seus pais eram professores e educaram Touko numa atmosfera de arte, literatura e música. Obviamente com talento, aos cinco anos o menino já tocava piano e desenhava tiras de quadrinhos. Ele amava a arte, a literatura e a música, mas se interessava ainda mais por aqueles homens rudes, selvagens, diferentes do seu contexto familiar mais elitista.
O objeto de observação e desejo
Desde esta primeira infância, aos cinco anos de idade, Tom começou a espionar um vizinho, um garoto musculoso que trabalhava como peão de uma fazenda. Este foi o primeiro de uma série de heróis que tiveram a atenção de Tom, além de ser o primeiro objeto de estudo do artista, que memorizava cada flexão dos músculos torneados do vizinho, cada detalhe sensual, principalmente do rosto.
Em 1939 Tom estudou propaganda na escola de arte em Helsinki. Sua fascinação se expandiu ao incluir os tipos sensuais da cidade, encontrados no porto cosmopolita: trabalhadores das construções, marinheiros, policiais, estivadores.... Sem, contudo, ousar a fazer qualquer proposta para estes objetos de observação e desejo - uma paixão platônica àquela masculinidade exacerbada.
Mas sua vida começou a mudar quando Stálin invadiu a Finlândia e Tom, usando um uniforme de tenente, encontrou o paraíso nos blackouts da II Guerra Mundial. Nas ruas escuras da cidade ele começou a fazer sexo da maneira que havia sonhado: com homens uniformizados, cuja luxúria veio por no papal mais tarde - especialmente soldados alemães, que chegavam com suas jaquetas e botas reluzentes de tão engraxadas. Sem falar dos policiais motoqueiros vestindo calças de montaria.
Depois da guerra, os uniformes se tornaram raros novamente, e Touko voltava à sua prática de adolescente, trancando-se nu em seu quarto, masturbando-se e desenhando aquelas cenas que imaginava ou lembrava dos bons tempos de pegação nas ruas escuras. Trabalhava durante o dia como freelancer com desenho de propaganda e moda. E à noite tocava piano em festas e cafés, tornando-se assim um membro popular da boemia gay do pós-guerra em Helsinki. Contudo, Tom evitava frequentar a cena gay que despontava na cidade, porque aquilo que eles chamavam de 'bares artísticos' era repleto de gays efeminados e extravagantes, típico daquela época que não tinha meio termo (gay discreto ou metrossexual, por exemplo), sendo o contrário do que buscava o desenhista. Mas nas viagens que fazia, Tom gostava de conhecer os lugares gays de cada grande cidade que visitava, tornando-se popular nestes inferninhos menos provincianos. O então Touko rodou, procurou longe, mas só foi achar seu grande amor a alguns quarteirões de sua casa. Em 1953 ele conheceu Veli, com quem viveria os próximos 28 anos.
O desenhista
Na vida profissional, no final de 1956, Touko enviou seus desenhos secretos para uma popular revista americana de homens musculosos, tendo o cuidado de usar o pseudônimo Tom. O editor gostou de imediato e a capa da edição de primavera de 1957 trazia um lenhador sorrindo, desenhado pelo, agora, Tom of Finland. A capa foi um sucesso e Touko se tornou Tom para sempre. A demanda pelo que Tom chamava de 'desenhos sujos' também cresceu rapidamente, haja vista o tamanho do seu talento em retratar a figura humana masculina, numa época que ainda era raro e caro a fotografia e impressões coloridas. Porém, nem a arte erótica, tão pouco a homoerótica, eram lucrativas nos anos 50. Tom parou de tocar piano para se dedicar somente à arte, largando o trabalho em propaganda, só após conseguir ganhar dinheiro com seus desenhos, a partir de 1973.
Podendo se dedicar em tempo integral ao desenho erótico, Tom combinou detalhes foto realísticos com as suas fantasias sexuais mais selvagens, a fim de produzir um trabalho erótico e pornográfico, nunca antes mostrado. A representação de detalhes, como as botas e as roupas de couro são sensuais e excitantes pela própria perfeição. O brilho que esses objetos de fetiche transmitem via papel, desenhados com um simples lápis preto, aguça a fantasia do observador, sempre se impressionando com aquela trucagem impecável - a força dos desenhos de Tom of Finland.
Desenho de Tom com Peter Berlin à frente |
Ícone do Homoerotismo
1973 foi o ano da sua primeira exposição de arte em Hamburgo, na Alemanha, sendo uma experiência traumática: só um de seus trabalhos não foi roubado. Tom foi concordar em participar de outra exposição só em 1978, em Los Angeles. Era a primeira vez que viajava para a América. Nos próximos anos, houve uma série de exibições em Los Angeles, San Francisco e Nova York. As viagens para os EUA transformaram o tímido artista de Helsinki numa celebridade gay internacional, com amigos como Etienne e Robert Mapplethorpe.
Tom foi contemporâneo de outro ícone da sensualidade gay: Peter Berlin. O fotógrafo e autor de auto retratos homoeróticos, também foi desenhado por Tom. Em igual sentido, Berlin utilizava-se da mesma estética relacionada ao comportamento, moda e publicidade, com retratos dele mesmo usando roupas estrategicamente sensuais, justas no corpo, e com o volume da 'mala' evidente.
O grande salto na sua carreira deu-se quando o canadense-americano, Durk Dehner tornou-se seu empresário. Em 1981 o companheiro de Tom, Veli, morreu de câncer na garganta, ao mesmo tempo em que a epidemia de Aids se espalhava por várias cidades. Tom começou a ter mais amigos nos EUA e passava seis meses em Los Angeles, com Durk Dehner, e seis meses em Helsinki. Depois de ter diagnosticado um enfisema em 1978, Tom foi forçado a diminuir as suas viagens, mas continuou a desenhar. Quando a doença e a medicação deixaram sua mão trêmula para executar o detalhado trabalho pelo qual se tornou famoso, Tom voltou à técnica que gostava na infância, usando lápis pastel para executar uma série de nus bem coloridos, até morrer em 7 de novembro de 1991.
Influência na moda e no comportamento
O trabalho de Tom é referência primordial e obrigatória para qualquer pesquisa relacionada ao universo homoafetivo, sendo um dos ícones da arte erótica e o maior do homoerotismo. Por retratar uma época muito bem definida (aliás, todo o desenho é muito bem definido), seus desenhos inspiram o que hoje chamamos de Vintage (ou antigo, retrô). Para os acadêmicos é mais do que cult, é visceral Um realismo 'mentiroso', exagerado, mas que se revela ao mesmo tempo como perfeito e até proporcional - impressionantemente crível.
Os desenhos de Tom of Finland foram também os primeiros do tipo. Até então os homossexuais eram vistos como imitações de mulheres, travestis, ficando todos os outros enrustidos no armário. Tom mostrou em suas ilustrações homens com características exageradamente másculas (homens de bigode, fardados, musculosos...) em poses sensuais de conotação gay, em cenários com momentos de sexualidade exclusivamente masculina, em um universo que parece só existir homens.
Veja também:
Tom of Finland - o filme
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