Páginas

9 de jul. de 2016

Ginástica rítmica e nado sincronizado masculino?!

Jogos Olímpicos

A 31ª edição dos Jogos Olímpicos de Verão acontece daqui há um mês, no Rio, e uma curiosidade surge entre as modalidades olímpicas, especialmente em tempos onde a quebra de tabu debate a igualdade de gêneros: Por que não tem ginástica rítmica ou nado sincronizado masculino? E, já adiantando, mesmo que seja "coisa de viado", qual seria o problema?

Juntamente com as lutas, as provas de atletismo, arremessos... a ginástica, por trazer em si um espetáculo artístico, está entre as modalidades favoritas das olimpíadas, talvez a mais emblemática para o que entendemos por espírito olímpico, na competição mais top e internacional dos esportes.

Tipos que nem sempre aparecem nos jornais ou na mídia, esgrima, badminton, canoagem, trampolim, hipismo, hóquei, levantamento de peso, luta olímpica, pentatlo, polo aquático, remo, saltos ornamentais, taekwondo, tiro, arco, acabam ganhando todo o destaque (que merecem) na principal competição desportiva do mundo, mais que a Copa do Mundo, o maior evento do esporte preferido entre os homens. A propósito, o futebol nestas olimpíadas será disputado por 16 países no masculino e 12 seleções no torneio feminino.

E assim acontece com a maioria das modalidades esportivas, principalmente neste evento, que reúne atletas de todo o planeta, com categorias e subdivisões passando quase sempre pelo masculino e feminino, seja individual, em duplas, em grupo ou em partidas coletivas. Questões (de gênero) que passavam desapercebidas, agora são questionadas, onde acabamos achando no mínimo estranho haver esporte exclusivo para homens ou só para mulheres.

luta greco-romana, por exemplo, uma das modalidades da luta olímpica, é disputada apenas por homens, no circuito olímpico. Outro nicho do esporte bem masculino é o boxe, que só ganhou a participação das mulheres nas últimas olimpíadas, London 2012. Por enquanto são 10 categorias masculinas e apenas 3 femininas, inclusive para Rio 2016. Por fim, as duas competições exclusivamente femininas, ainda sem a modalidade masculinaginástica rítmica e nado sincronizado.

Espectacular coreografía de natación sincronizada (comédia em espanhol)


Ginástica Rítmica Masculina

Para não confundir, a ginástica artística, que estreou em Atenas 1896, a primeira edição da era moderna, é aquela onde os atletas competem em diferentes aparelhos, individual ou por equipe, com algumas distinções entre as 6 provas masculinas e as 4 femininas. Assim, barras assimétricas e barra de equilíbrio são apenas para mulheres. Já a barra fixa, barras paralelas, cavalo com alças e argolas se restringem aos homens. Solo e salto são as provas feitas por ambos os sexos, com o solo masculino mais próximo aos saltos (e mortais), e o solo feminino mais assemelhado ao balé ou a um número de dança, incluindo, claro, as mesmas estripulias feitas com o corpo, de nível difícil a dificílimo.

Por sua vez, a ginástica rítmica e o nado sincronizado (ambos, desde Los Angeles 1984) vêm se mantendo exclusivamente disputados por mulheres. São verdadeiros espetáculos com infinitas possibilidades de movimentos corporais, combinados aos elementos de balé e dança teatral, em harmonia com a música e com o manejo dos aparelhos específicos de cada modalidade (tudo em busca da melhor nota): arco, fita, bola, maça e corda para a ginástica rítmica, sendo as coreografias do nado sincronizado apresentado em duplas ou equipes.

Ainda que hoje a ginástica rítmica masculina já possua um conjunto de regras claras e específicas, instituídas pela Confederação Japonesa de Ginástica, e que serve de base para a realização de eventos competitivos, a Federação Internacional de Ginástica (FIG), assim como a Confederação Brasileira de Ginástica, ainda reconhecem o esporte como sendo uma prática exclusivamente feminina. A ginástica rítmica ganhou uma versão masculina desenvolvida no Japão, durante os anos 70. Enquanto na versão feminina se valoriza a beleza da graciosidade e a sutileza dos movimentos harmônicos e envoltos pela música, a modalidade masculina exalta força e resistência, combinando a ginástica tradicional feminina com a arte marcial do wushu.






Os homens competem em grupos de seis atletas sem aparelhos (mãos livres) e em uma apresentação que se assemelha ao aparelho solo da ginástica artística masculina. Entre os elementos exigidos estão o equilíbrio, de obrigatoriedade também feminina, os saltos verticais e a formação de correntes, como elos.

Individualmente, o ginasta também manuseia aparelhos, que se apresentam em um total de quatro: dois arcos menores (no lugar de um grande para o feminino), dois bastões longos (de uso exclusivo masculino), duas maças, como para as mulheres, e a corda.

Cordas: Kazuya Dekita - Ginastica Ritmica Masculina

Men's RG.Kazuya Dekita.rng.2008

Com o tempo, a popularidade desta variante da ginástica rítmica vai atingindo outros países dentro e fora da Ásia. Além da Malásia e da Coreia do Sul no continente, pratica-se a GR masculina na Austrália, na Rússia, nos Estados Unidos, no Canadá e, mais timidamente, no México.

Mesmo sem o reconhecimento da FIG, estes grupos vão se reunindo para realizar seus campeonatos nacionais e internacionais, onde podemos prever que logo poderá ser aceito nas competições da confederação.

Em 20 anos contados a partir de seu surgimento no Japão, as competições vão ganhando quorum. Em 2003, aconteceu o primeiro campeonato internacional com 5 países participantes. Em 2005, o número aumentou para 7. Por ser um esporte ainda novo, os campeonatos são realizados sob a autoridade da FIG, embora ainda sem o aval dela. Com um número de ginastas inscritos nesta variação já na casa dos milhares só no Japão, os pioneiros deste esporte pleiteiam ante à entidade pelo reconhecimento do esporte.

Ginastica Rítmica Masculina - Fórum internacional de ginástica de 2012

Ginástica Ritmica Masculina - Leonardo - mãos livres

Jose SANCHEZ ARO Cto Nacional Masculino Zaragoza 2012

Rubén ORIHUELA CINTA Cto Nacional Masculino Zaragoza 2012

Ginástica Rítmica Masculino - Conjunto Masculino/ITAPEVI


Nado Sincronizado Masculino

Já a FINA (Federação Internacional de Natação), que gere os esportes aquáticos no mundo, aprovou, num congresso realizado em Doha, no Catar, em 2014, a inclusão dos homens nas competições oficiais de nado sincronizado.

A modalidade, que sempre foi exclusiva a mulheres, teve a prova de dueto misto a partir do Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos, realizado em Kazan, na Rússia, no ano passado (2015). Porém, nas olimpíadas do Rio 2016 ainda a modalidade será disputada somente por mulheres - o Comitê Olímpico Internacional (COI) precisa aprovar a ideia para que a prova faça parte das Olimpíadas.





Para os ginastas, ainda que interessados (e pioneiros), não há referências de atletas registrados porque não podia. Agora, naturalmente, eles podem se inscrever no nado sincronizado. Para Nayara Figueira, atleta brasileira em Beijing 2008 e London 2012, e medalhista pan-americana (Pan Rio 2007 e Guadalajara 2011), a ideia é ótima. Ela abandonou as provas oficiais este ano e, atualmente, trabalha como técnica no Clube Paineiras do Morumby, em São Paulo, na torcida do que seria um "avanço para a modalidade": "Que bom que aprovaram, já estava na hora do nado deixar de ser só feminino. Não só pelo preconceito, mas também por revelar talentos do sexo masculino que estão escondidos pelo mundo. Muitos homens já provaram que são merecedores deste esporte".

Renan Alcântara (BRA) 1º atleta masculino do Nado Sincronizado (Dueto Misto)

Jair Galeano es el único atleta latinoamericano de nado sincronizado masculino


O esporte e as modalidades de gênero

Apesar de se enraizarem como modalidade estritamente feminina, os criadores de esportes como nado sincronizado e ginástica rítmica, foram, na maioria das vezes homens (ou, pelo menos, é o que a história atribui), sem falar que o esporte nasceu das lutas mais primitivas, da caça e da guerra, onde o homem via que todo aquele esforço físico poderia também ser prazeroso, além de poder atrelar equipamentos e acessórios, bem como melhorar sua performance. Também a emblemática figura da sereia sensualizando e causando nas águas, foi primeiro praticada, ainda no fim do século 19, com homens fazendo acrobacias nas piscinas. Claro que, junto com toda esta evolução na igualdade entre gêneros, a história e suas diversas culturas e padrões político-sociais sempre foram a base para determinar as distinções entre os sexos, transformando os significados ao longo do tempo.

Contudo, a origem do nado sincronizado é um pouco incerta, num consenso de que ele tenha surgido de acrobacias espontâneas e intuitivas na água e que, com a evolução delas, teria originado o balé aquático (um pequeno esboço do que hoje é chamado de nado sincronizado) - uma modalidade esportiva dotada de extrema plasticidade de movimentos, enchendo os olhos de quem vê, ganhando assim espaço, se aperfeiçoando, até se tornar um desporto oficial, com capacidade até para atrair patrocínio.





Antigamente, o ballet aquático, como era chamado, era visto apenas nos intervalos de competições de natação. Ou como atração artística de festas bem granfinas. Em 1891, o esporte começou a ser praticado por alemães durante uma disputa desportiva em Berlim. Mas a primeira vez que se ouviu o nome oficial 'nado sincronizado' foi em 1933, durante o primeiro mundial em Chicago. Durante o evento, após uma apresentação das alunas de Katherine Curtis (ao som de "Sereias Modernas"), o nadador medalhista de ouro Norman Ross cunhou o termo "natação sincronizada". A modalidade, porém, só entrou em disputa por medalhas em 1984, em Los Angeles.

Por sua vez, surgida através dos estudos do pedagogo Jean-Jacques Rousseau (séc. XVIII), assim como as demais modalidades, a ginástica rítmica se transformou durante o passar dos anos, sempre ligada à dança e à musicalidade, até chegar à antiga União Soviética, onde se desenvolve como prática desportiva, e à Alemanha, onde ganhou os aparelhos conhecidos hoje. Rousseau descreveu o desenvolvimento técnico e prático da modalidade na educação infantil. Mais adiante, Guts Muths, um dos pioneiros da ginástica em si, voltada para o fortalecimento do indivíduo e à saúde.

No século 19, a modalidade realmente começou a se enraizar. François Delsarte, foi o primeiro a lançar suas ideias a respeito da expressão de sentimentos pelos movimentos corporais. Mais tarde, Émile Jaques-Dalcroze iniciou a prática de exercícios rítmicos como meio de desenvolvimento da sensibilidade musical, através dos movimentos do corpo - o que funcionou como uma espécie de continuidade do primeiro trabalho. Em seguida, um aluno de Dalcroze, Rudolf Bode, melhorou os movimentos, deixando-os mais naturais e integrais, também com o intuito de demonstrar, por intermédio dos movimentos, os estados emocionais do praticante. E assim por diante.


Mesmo com seus idealizadores, criadores e estudiosos homens, a ideia de beleza, no sentido de harmonia estética, graciosidade, sempre foi relacionada com o universo feminino, inclusive as cores, os cheiros e suas singelezas. Porém, conforme supracitado, a movimentação atual para a então "igualdade de gênero" passa por todos os setores e não seria diferente no esporte. E se ainda incluíssemos os transgêneros e intersexuais, aí é que podemos acreditar que cada vez mais veremos menos distinções entre masculino e feminino - talvez seria mais justo uma subdivisão como acontece no boxe e outras lutas, por peso, haja vista que a diferenciação por gênero não seria mais suficiente, coerente ou democrática.

Por enquanto, ainda o preconceito faz com que muita gente ache engraçado, esquisito ou gay, ao ver uma apresentação de balé, ginástica rítmica ou nado sincronizado quando os protagonistas são homens, mesmo que estes se mostrem viris e, ou profissionais. É o que se percebe no vídeo abaixo, numa apresentação de nado feito por uma dupla de garotos, onde as risadas no áudio mostram que o público via mais graça (no sentido de piada mesmo) do que o talento que se exibia diante de seus próprios olhos.

Nado Sincronizado Masculino [Dueto Baxal-Ha]

Basta lembrar dos dançarinos de palco da pop music, do axé ou dos que dançam de salto alto, feito o grupo Kazaky, dos bailarinos clássicos, dos atletas da ginástica aeróbica ou da patinação artística, que, a propósito, também é disputada nas olimpíadas (de inverno para patinação no gelo). Afinal, o homem já mostra que também pode 'rebolar' desde a marcha atlética, uma das modalidades do atletismo olímpico!

Felizmente, o caminho (sem volta) é mesmo para a extinção destas separações simbólicas entre o que seria masculino ou feminino que, cada vez mais, vemos que não tem lógica ou outra explicação que não se refere ao machismo. O fato é que, para uma boa performance no esporte ou em qualquer outra área, o que vale mesmo é o talento, a dedicação, a disciplina e a genialidade daqueles que apostam a vida toda no sonho de simplesmente ser o melhor no que faz, seja o que for e independente de julgamentos.

Quebrando tabus - Ginástica Rítmica Masculina

Um comentário:

  1. Cara, tomara que tenham muitas dessas modalidade olímPICAS. Esses nadadores de sunga vão deixar minha tocha sempre acesa

    ResponderExcluir

Este comentário poderá ser publicado no novo site homemrg.com