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19 de mar. de 2019

Arte erótica ou pornografia?

Provocações

Aparentemente não há nenhuma diferença entre arte erótica e pornografia. Além de depender do ponto de vista do espectador, da intenção do artista ou produtor, ambos os casos possuem, entre suas especificidades, uma liberdade infinita, antes mesmo de qualquer censura.

Foto: "A Origem do Mundo" - Gustave Courbet

Com relação ao ponto de vista ou reação do espectador, certamente estamos falando de cultura, onde a leitura de qualquer conteúdo vai depender de nossas crenças, conceitos, preconceitos e noções cognitivas, aprendidas, ao longo da vida, no meio social.

Uma obra de arte figurativa, mostrando a figura humana nua, por exemplo, ainda que não mostre os genitais, poderá ser considerada lasciva para certas pessoas, culturas ou épocas. Por outro lado, uma figura realista de um falo (pênis), pode ser cultuada como símbolo de devoção, como acontece no Festival do Pênis (Japão), o Kanamara Matsuri.

Conta a lenda que durante a Era de Edo (1603-1868), um demônio com dentes afilados, que vivia na vagina de uma mulher, castrou vários homens durante sua noite de casamento. Um ferreiro criou então uma espécie de consolo de metal para quebrar os dentes do demônio.

Hoje, um falo de aço, de um metro de altura, enfeita o pátio do santuário de Kanayama, em homenagem às divindades shintoístas da fertilidade, da concepção e da proteção das doenças de transmissão sexual.

P*NIS FESTIVAL (Kanamara Matsuri)

Além de regional, geralmente por país ou separado em cultura ocidental x oriental, esta leitura e compreensão se o que vemos é arte ou pornografia se refere diretamente à história. Sabemos que na Antiguidade Clássica, na Roma Antiga, Grécia, etc., a nudez era considerada algo comum, representando a beleza natural (ou ideal) humana - o sexo, mesmo fora do matrimônio, não era pecado, como foi considerado após o Cristianismo.

Em tempo, costumamos separar o teor de lascividade dos conteúdos audiovisuais da seguinte forma: Sensual, para nudez ou insinuação sensual moderada, sem mostrar seios ou genitais; Erótico, para quando o conteúdo mostra os órgãos sexuais de também de forma moderada, insinuando (no caso de mostrar um pênis, por exemplo, este não estará ereto); e Pornográfico, para conteúdo erótico explícito e, claro, sexo explícito (aqui o pênis é mostrado ereto).

Mas veja se você consegue então definir o conteúdo desta imagem, após estas predefinições, onde o casal está completamente vestido, mas insunuando um sexo oral!

Daí, vamos para uma outra perspectiva: a intenção de quem fez a arte erótica ou pornografia.

A utilidade da obra, seja ela arte erótica ou pornografia, pode também pontuar esta diferença entre uma coisa e outra. Enquanto que o objetivo da pornografia é estimular sexual e visualmente quem vê ou assiste (pode ser também didático, como nas casas de banho da antiga Pompeia), o intuito das artes não se relaciona ao utilitário, sendo a proposta de reflexão ou contemplação ligada ao conceito, à criatividade e à estética.

Contudo, tanto arte ou pornografia são acobertadas de toda liberdade, antes mesmo de qualquer censura. Neste sentido, o artista é reconhecido por sua criatividade, por trazer à sociedade algo novo, assim como a pornografia, obviamente, não tem nenhum compromisso em ser puritana, muito menos pudica.

Uma longa discussão que, conforme pontuado, depende muito mais do julgamento de quem vê. Inclusive tivemos polêmicas recentes nas artes, com artistas sendo censurados por religiosos ou conservadores, apenas por apresentarem trabalhos que remetem à nudez.

Arte: Pedro Moraleida - exposição 'Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina' Palácio das Artes, 2018.

Um desses casos foi com o falecido artista Pedro Moraleida (fomos colegas na Escola de Belas Artes - UFMG) que, após sua obra ter sido alvo de manifestações por parte de grupos religiosos (exposição 'Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina'), na galeria do Palácio das Artes (BH), a PQNA Galeria, passou a se chamar PQNA Galeria Pedro Moraleida.

Na época, o cantor e compositor Caetano Veloso visitou a exposição e se posicionou em favor da liberdade de expressão artística em Belo Horizonte. De acordo com a Fundação Clóvis Salgado, a mudança do nome da galeria reafirma o compromisso da entidade “com o estímulo às diferentes manifestações artísticas no Estado”.

Em todos os casos, notamos exageros e pontos de vistas divergentes sobre o que deve ou não ser censurado. Imagens até pueris, que de nada têm de sexo explícito ou realismo, ganham ar de pornografia por alguns, incluindo as políticas das redes sociais como Facebook e Instagram, que excluem postagens que, na interpretação deles, é "Conteúdo Adulto" - um outro termo polêmico, que requer uma outra postagem.

Será que se postarmos uma reprodução da pintura de Courbet, com nu frontal hiper-realista, no Instagram, por exemplo, suas políticas entenderiam como arte? Ou excluiriam como imagem de uso exclusivo adulto?

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