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25 de nov. de 2015

Vídeo "Blow up" de Les Dupont, o ícone gay São Sebastião e outros mitos da antiguidade clássica

Sebastiane

Com cenas do histórico Sebastiane (filme de 1976, dirigido por Derek Jarman e Paul Humfress), um autêntico classic vintage, o grupo de música eletrônica Les Dupont (Didier Blasco e Louis-Frédéric Apostoly) apresenta uma dos principais mitos do imaginário gay: o soldado romano desnudo e com o corpo todo cravejado com flechas - São Sebastião, ícone gay que virou videoclipe para a faixa minimalista Blow Up, um IDM com recriações de imagens e ambientes, e novos significados para os mixes de sons e épocas.

Les Dupont - Blow up [Ver no Youtube]

Sebastiane - filme completo: archive.org/details/Sebastiane

Um longo ensaio sensual gay, no estilo dos épicos da Antiguidade Clássica... O filme Sebastiane é todo falado em latim arcaico, retratando os acontecimentos da vida do soldado romano Sebastião, incluindo o icônico martírio por flechas, atribuído ao santo católico. O longa, dirigido ao público gay, traz situações homoeróticas entre os oficiais da guarda imperial romana, vividas em pleno verão de 303, cujo imperador era Diocleciano. Já envelhecido e devastado por uma série de incêndios inexplicáveis, o imperador então culpa os cristãos, iniciando uma grande perseguição contra os discípulos de Cristo. Ao voltar a Roma para comemorar seus 20 anos no trono, com jubileu, jogos e tudo, a celebração teve uma festa dada por Diocleciano para sua família e seu favorito Sebastán, o capitão da guarda do palácio, comemorando assim o nascimento do sol, divindade de devoção do soldado mais cobiçado entre os oficiais.

Na produção cinematográfica que se passa no século IV dC, embora viesse a se tornar um dos primeiros cristãos, Sebastiane é um adorador do deus romano sol Phoebus Apollo e tenta, a duras penas, sublimar o desejo dos seus companheiros (também soldados romanos), que adoravam sua divindade (em grego, sebastós significa divino) e pacifismo. Severus, o oficial comandante da guarnição, torna-se cada vez mais obcecado com Sebastiane, tentando a todo custo tê-lo como homem, até, finalmente, presidir sua execução sumária, por ter se recusado a pegar em armas em defesa do Império Romano. Justin, um de seus companheiros de guerra, também se mostra apaixonado por Sebastiane, ainda que necessariamente não seja correspondido (uma alusão ao "amor platônico"), mas faz amizade com o teimoso pacifista celibatário. Veja algumas imagens do filme:











Fora desse drama todo e suspense, com a hipótese do protagonista ceder ao assédio generalizado, os indícios de plenitude parece mesmo estar na beleza física dos atores e seus corpos seminus ou completamente pelados (homoerotismo explícito) e o romance entre Adrian e Anthony, dois dos companheiros assumidamente gays de Sebastiane. O filme é um superprodução gay, feita para gays e utilizando-se de uma das mais emblemáticas figuras da homossexualidade: o mito São Sebastião.


Les Dupont

A dupla eletrônica Les Dupont é uma criação dos franceses Didier Blasco e Louis-Frédéric Apostoly (foto), formada ainda na escola de Belas Artes de Nice - certamente o motivo principal por produzirem também uma série de videoclipes com sacadas artísticas, incluindo assim o audiovisual nos trabalhos que transitam nas artes visuais como um todo, especialmente a conceitual.

Em 1995, a dupla se une com o grupo, também francês, Omnisonus, entre outros artistas e DJs como Dax Riders, Pacman, Roussia, Djul'z e Armand. Eles  começaram nesta época também a chamar atenção da crítica especializada (CodaL'AfficheL'Eléphant RoseOut-SoonLibération), bem como suas performances ao vivo (le RexSIR. CUS CybernautWattrelos Festival).

O primeiro LP, porém, só veio a ser lançado em 1996, Miracle, um álbum de IDM (Intelligent Dance Music), que é o gênero da música eletrônica surgido nos anos 1990, uma espécie de som ambiente, beirando o jazz e a cinematografia (trilha sonora). Influenciada por CoilSPK Throbbing Gristle, a dupla também grava música hardcore, em coletâneas como Hardcore Fever Vol. I & II (Polygram), Techno Trash Car (Polygram), Hardcore Cybermix (Fairplay) e Harcore Extreme Mission (Polygram), com o single Cinetik Rex (E Child, 1995 - mesmo álbum com a faixa Brazil Backup) virando uma referência entre os DJs hardcore.





Em 2000, Les Dupont criam seu próprio selo e gravadora, Lysis, lançando horas de house melódico, poesia e até mesmo filosofia de forma mais evidente, usando inserções de Jean Cocteau e Verlaine em Renaissance. Em 2005, eles lançam três álbuns com Apocalypse Record, uma trilogia de hardcore, que de acordo com os próprios autores, "capaz de trazer o ouvinte para fora do consumismo passivo, bem como expressar a violência que a sociedade impõe à juventude e aos fãs desta cultura: Black Metal". Em 2009, o grupo lança seu primeiro The Best Of, a partir dos seus 7 álbuns de estúdio anteriores, reunindo títulos emblemáticos, versões novas e inéditas, totalmente remasterizado.

Mix Les Dupont - youtube.com/user/lesdupont

Site dupontlysis.wix.com/lesdupont
Playlist HomemRG [Gay] Videoclipes


São Sebastião: um mito gay

São Sebastião talvez seja a referência homossexual mais antiga do imaginário homoerótico. A forma como é representado, em pintura e escultura, quase sempre meio nu, com um belo corpo musculoso, mais o simbolismo das flechas (setas) trespassando-lhe o corpo, bem como sua expressão de êxtase ou total sublimação da dor, são algumas das especificidades para este santo católico gerar tanto fascínio e atração nos homossexuais, e muito antes do século XIX, com o Romantismo. Richard A. Kaye escreveu que "os homens gays contemporâneos viram imediatamente em Sebastião o anúncio comovedor do desejo sexual (de fato, um ideal homoerótico) e um exemplo prototípico de um gay escondido no armário que foi torturado" - Richard A.. Losing His Religion: Saint Sebastian as Contemporary Gay Martyr., 1996.

Sebastião tem sido um nome utilizado como um código escolhido por vários autores para caracterizar os seus personagens, histórias gays ou situações trágicas, como, por exemplo, Tennessee Williams, em Suddenly, Last Summer, Evelyn Waugh, em Brideshead Revisited, e Oscar Wilde, em Little Britain (dramaturgo que posteriormente se tornaria outro famoso ícone gay, devido ao seu julgamento e prisão por "sodomia"). Nas artes plásticas e visuais, a figura de São Sebastião é ainda mais recorrente, onde podemos dizer que praticamente fora um santo representado por todos os artistas, entre pintores, desenhistas, gravuristas e escultores, especialmente na Queer Art., tornando-se uma figura clichê da expressão gay.

A propósito, a Antiguidade deu origem a um grande número de ícones gays, devido provavelmente ao ambiente de tolerância pelas relações homossexuais entre homens adultos e jovens adolescentes ("pederastia"), bem como o fascínio pelos fortes e corajosos soldados romanos e suas sainhas de tiras de couro e rebites mostrando os pernões musculosos, a "beleza grega" das esculturas clássicas, os gladiadores, heróis e guerreiros greco-romanos... A mitologia antiga com figuras extremamente sexy, como centauro, minotauro, elfos e até as gárgulas da arquitetura gótica, referências bastante utilizadas especialmente no estilo vintage, onde era comum toda iconografia gay ser inspirada na cultura greco-romana, incluindo nomes de saunas e termas, bares, motéis, publicações, filmes e vídeos eróticos dos anos 1960 ao retrô dos 1980 (Eros, Spartacus, Adonis, Partenon, etc.), até nos dias de hoje - uma identificação com o paganismo, haja vista que os dogmas judaico-cristãos reprimiam as expressões sexuais, colocando-as nos patamares do pecado e do proibido, sobretudo os gays.


E se repararmos ainda mais, as histórias desta época são basicamente homoeróticas, com longas passagens em ambientes e acontecimentos com personagens predominantemente masculinos, seja nas batalhas, no ginásio ou na orgia, sempre evidenciando o 'mundo entre homens' (lembra de Mulheres de Atenas de Chico Buarque?) e as forças eróticas como integrantes das histórias e das características divinas destes mitos.

Assim, o par de enamorados Aquiles-Pátroclo foi considerado o símbolo do amor ideal entre homens. É um elemento-chave dos mitos associados à Guerra de Troia, onde, em Ilíada, fica nítida a relação íntima entre os dois heróis (que eram também primos), com uma amizade profunda e extremamente significante para ambos, incluindo evidências românticas e sexuais. O próprio Alexandre, o Grande, teria colocado uma coroa de flores sobre o monumento funerário de Aquiles (inclusive com a histórica passagem da flechada em seu calcanhar de Aquilies), ao passo que Heféstion, o seu amante, teria colocado outra no de Pátroclo, simbolizando que a relação que os unia era semelhante a dos dois heróis mitológicos.

Brad Pitt como Aquiles e Garrett Hedlund como Patrócles no filme Troia (2004).

Cena com beijo gay de Aquiles em um dançarino, também no filme Alexandre (2004).

Já na história oficial católica, Sebastião era um soldado originário da Narbônia, na Gália, atual França, e cidadão de Milão, que teria se alistado no exército romano por volta de 283 d.C., com a única intenção de atingir o coração dos cristãos, enfraquecidos diante das torturas e perseguições dos imperadores romanos. Por ser querido por Diocleciano e Maximiliano, que o queriam sempre próximo, ignorando se tratar de um cristão e, por isso, o designaram capitão da sua guarda pessoal, a Guarda Pretoriana, a resistência em ir contra aos seus foi o fato gerador da santificação daquele soldado - por volta do ano de 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas (uma maneira de morte mais lenta, com mais sofrimento, torturante, vindo a se tornar o grande símbolo da sua própria iconografia).

Foto:
St. Sebastian (1474) de Sandro Botticelli

Dado como morto e atirado no rio, Sebastião não havia falecido naquela tragédia, com requintes sadomasoquistas - não podemos deixar de lado as expressões de prazer no meio daquele horror todo, evidenciado na maioria de suas representações artísticas. Encontrado e socorrido por Santa Irene, apresentou-se novamente diante do Imperador Diocleciano, que ordenou então que ele fosse espancado até a morte. Seu corpo foi jogado no esgoto público de Roma e Santa Luciana o resgatou, limpando e o sepultando às catacumbas. Toda esta história é considerada, porém, pelas atuais lideranças cristãs como alegoria, mito, de fragmentos históricos ou de contos populares, cuja construção atravessou séculos e transformou São Sebastião no padroeiro dos arqueiros, protetor da Humanidade, contra a fome, a peste e a guerra e, claro, da cidade maravilhosa Rio de Janeiro.

Com o tempo, as especulações ou montagens simbólicas, assim como a própria nudez e sofrimento (também torturante) da imagem principal do cristianismo, Jesus pregado na cruz com apenas um paninho cobrindo o genital, que deixa todo o corpo exposto, consolidaram em uma série de representações de gênero e até político, na ideia da força poderosa da paixão como fé e como sentimento arrebatador. Jesus e Sebastião são os santos despidos do catolicismo, que usam inclusive esta forma de sedução como didática ao movimento cristão de bondade, caridade, fé... Especialmente na condição de total flagelo (incluindo a auto-flagelação), reafirmando assim a "vontade de Deus". É válido também ressaltar que a suposta homossexualidade estava atrelada a uma visão contrária entre paganismo e catolicismo, sendo os cristãos os "homens retos" e todos os outros, por sua vez, "desviados" pagãos - uma visão essencialmente política, como aconteceu também com os judeus e com os comunistas, associando-os ao pecaminoso ou ao conjectural crime moral ("comunistas, comedores de criancinhas"; judeus que não consideram Jesus como Messias; "bruxos com pacto com o Diabo"; bem como "os negros não tem alma" ou "as mulheres não são capazes"; entre outras estratégicas meramente políticas).

São Sérgio e São Baco
Contudo, há outros santos que a comunidade católica gay reconhece como intercessores e, ou tem suas histórias como exemplos de virtude gay: São Sérgio e São Baco (mártires do século IV), do exército do imperador romano Maximiano, um casal gay respeitado pela própria Igreja, segundo o polêmico e premiado livro Cristianismo, Tolerância Social e Homossexualidade, publicado em 1980 por John Boswell, historiador da Universidade Yale (EUA). Defensores religiosos acusaram o autor de exagerar em seus estudos sobre os arquivos históricos da Igreja, bem como foi visto como panfletário, ou seja, interessava apenas à militância homossexual forjar seus santos gays. Quem apoiou o historiador, porém, dizia que a igreja andou adulterando os arquivos antigos para esconder registros sobre a homossexualidade dos dois. O fato é que São Sérgio e São Baco viraram ícones do movimento gay, inspirando os artistas e sendo utilizados na defesa da união civil entre pessoas do mesmo sexo, cujas cerimônias são seladas com a leitura da oração dos dois santos:

Ó Senhor, nosso Deus e Governante, que fizeste a humanidade à tua imagem e semelhança, e lhe deste o poder da vida eterna, que aprovaste quando teus santos apóstolos Felipe e Bartolomeu se uniram, juntos não pela lei da natureza e sim pela comunhão do Espírito Santo, e que também aprovaste a união de teus santos mártires Sérgio e Baco, abençoe também a estes servidores Nome e Nome, unidos não pela natureza mas pela fidelidade. Permite-lhes, Senhor, amarem-se um ao outro sem ódios e poder continuar juntos sem escândalos, todos os dias de suas vidas, com a ajuda da Santa Mãe de Deus e de todos os teus Santos, porque teu é o poder e o reino e a glória, Pai, Filho e Espírito Santo.

Fotografia de Anthony Gayton

Porém, muito pouco se sabe sobre as vidas desses santos, até porque são geralmente datados de tempos bem remotos e, mesmo se de fato existiram, as evidências ou documentos de que se trata de fatos reais são frágeis e muitas vezes inexistentes, só lenda. O pouco que se sabe da dupla de santos supostamente gays é que eles eram naturais da Síria, soldados das Legiões da Fronteira, ocupavam altos cargos no palácio de Maximino Daia e que alguns de seus inimigos os acusavam de serem cristãos, o que os fez serem levados até o templo do deus Júpiter e obrigados a participarem de cultos ao ídolo oficial. Por eles não terem aceitado cumprir tal ato, como punição, foram vestidos de mulher e levados às ruas, expostos à vergonha de serem obrigados a fazer tudo ao contrário do que pregava a Santa Doutrina de Jesus. Conforme alguns estudiosos, foi através deste vexatório que seus inimigos espalharam que os dois mantinham um relacionamento homossexual. O imperador então, vendo que eles não se convertiam, condenou-os a morte, no ano 297.

Mas é São Sebastião a figura com mais citações na cultura LGBT. No ano de 2000, os movimentos de defesa dos homossexuais no Brasil proclamaram o santo como protetor e padroeiro dos gays. O Grupo Gay da Bahia (GGB) declarou o mártir como padroeiro dos homossexuais, divulgando em documento as supostas ligações do santo com a homossexualidade, ainda que esta não seja considerada como um comportamento válido nas normas matrimoniais da Igreja. O grupo aproveitou o dia do santo (20 de janeiro na liturgia católica e 17 de dezembro pela ortodoxa) daquele ano para proclamar o Mosteiro de São Bento de Salvador o santuário homossexual do Brasil (!!). Representantes do GGB participaram de uma missa no mosteiro, interpretando a cerimônia como a celebração solene da proclamação de São Sebastião como patrono dos homossexuais - do século 17, no mosteiro há uma estátua em tamanho natural do santo.

"Os gays veneram São Sebastião desde a Idade Média", informava o presidente do GGB, o escritor Luiz Mott, pioneiro na resistência e militância gay no país. Segundo ele, a biografia do santo relata que Sebastião era o soldado romano preferido do Imperador Diocleciano, apontado por historiadores como um dos governantes homossexuais de Roma. O martírio de São Sebastião teria sido pelo fato dele ter terminado o caso com o imperador, depois de ter se convertido ao cristianismo. Também a expressão efeminada do santo, geralmente assim representada nos quadros e esculturas ao longo dos séculos, teria reforçado, na visão de Mott, a transformação do santo em um autêntico ícone gay.

Ainda segundo o antropólogo, que possui cópias de vários documentos e processos de monges "sodomitas", perseguidos pela Inquisição, o mais famoso beneditino gay teria sido o poeta Junqueira Freire, autor de um poema com o sugestivo nome A um moçoilo, onde confessava sua paixão por um rapaz. Mott também dispõe de farto material do último século sobre supostas práticas homossexuais entre beneditinos de Salvador e Olinda. Tudo isso pode parecer provocação, para uma crença que nunca assumiu a naturalidade da sexualidade gay, mas o ativista garante que a intenção seria chamar a atenção das autoridades religiosas para o fato de que há muitos homossexuais católicos, inclusive que continuam fiéis à Igreja, desejando serem acolhidos por ela. Tudo que estes mais querem é ouvir o Papa dizendo em alto e bom som: 'homossexualidade é normal, abençoada por Deus e bonita por natureza!'.

De fato, o bárbaro método de execução de São Sebastião fez dele um tema recorrente da arte medieval até a arte contemporânea, surgindo geralmente representado como um jovem amarrado a uma estaca ou tronco de árvore e perfurado por várias setas (flechas) - três setas, uma em pala e duas em aspa, atadas por um fio, constituem o seu símbolo heráldico. Há muito, a pintura o nomeou como modelo dos pintores da Renascença, tornando-o um ícone das representações da figura humana masculina, tema por sua vez e especialmente utilizado na arte homoerótica - também relacionado ao fetiche da flagelação (tortura) e até utilizado como apelido para aqueles parceiros pouco expressivos na cama, que só levantam os braços, deixando o outro fazer todo o trabalho, sem contudo demonstrar qualquer reação.

Galeria:
St Sebastian
















Pierre et Gilles





Veja também:


A Intervenção das Sabinas (1799), de Jacques Louis David
Mitos eróticos da Antiguidade e a sensualidade por debaixo das túnicas e saiotes

A primeira imagem que veio a me despertar, ainda na infância, o que hoje entendo como homoerotismo, foi uma reprodução intitulada num livro de artes como A Intervenção das Sabinas (1799), uma pintura neoclássica de Jacques Louis David, representando a passagem mais emblemática sobre a origem de Roma. Lembro que o que mais me chamava atenção era a perfeição dos detalhes e beleza extrema com que eram pintados aqueles corpos masculinos, especialmente a bunda do soldado que se vê de costas, empunhando uma lança e um escudo tão redondo quanto o seu traseiro. Aliás, foi o neoclassicismo quem se valeu da estética e histórias clássicas, transformando os heróis da mitologia em passagens e santos católicos.

Assim, uma outra lembrança desta sensualidade no Mundo Antigo é relacionada ao próprio catolicismo, sempre repleto de figurações com homens fortes, viris, e trajados de forma meio desnuda ou  que deixam uma forte curiosidade lasciva no ar - nos filmes ou nas encenações da Paixão de Cristo ficava de olhos vidrados nos lances e barrancos dos soldados romanos e suas sainhas (até as sandálias achava super sexy), com os pernões musculosos todo de fora, além da protuberância que poderia dar por debaixo das túnicas, junto com a safadeza em pensar se aquele figurino poderia ser apenas a veste, com nada mais por baixo.

Com o tempo, via aquelas mesmas vestes em fantasias de carnaval e, especialmente, nas fantasias e fetiches homoeróticos, gladiadores, centauros, faunos, minotauros e escravos, no fascínio de uma época pagã, onde ainda não havia o tal e temido "pecado". Há quem diga que antes do cristianismo, a bissexualidade e o hedonismo eram comportamentos totalmente normais, sendo os héteros a "minoria" de então. No imaginário popular também é sugerido esta necessidade em tempos de guerra, onde os homens vivem isolados por longos períodos, deixando as mulheres cuidando da vila (e, da mesma forma, elas também poderiam aproveitar a ausência dos homens para se satisfazerem entre si), há uma nítida impressão de que os homens daquela época transavam uns com os outros, bem como na tradição dos treinamentos de guerra iniciados aos 7 anos de idade - aos 14 anos o garoto era iniciado sexualmente com um homem mais velho, provavelmente seu capitão, general ou tutor-mestre (professor).

Seja boataria ou história politicamente incorreta, a cultura greco-romana, além de berço da civilização, com uma infinidade de códigos criados a partir de então (do teatro, da psicologia, da estética e da política, incluindo a luta greco-romana, originando os demais combates de contato), tem um definitivo lugar de destaque no imaginário homoerótico.

A homossexualidade na Grécia Antiga teve diversos aspectos explorados por autores da Antiguidade Clássica, como Heródoto, Platão, Xenofonte, Aristófanes e Ateneu. Por sua vez, a forma mais difundida e socialmente significativa de relação sexual entre membros do mesmo sexo na Grécia era entre adultos e adolescentes. Já as fontes históricas disponíveis sobre a prática homossexual na Roma Antiga, suas atitudes e a aceitação deste fato, são ainda mais abundantes. Há obras literárias, poemas, gravuras e comentários sobre as preferências de todos os tipos de personagens, incluindo imperadores solteiros e casados. Por outro lado, as representações gráficas são mais raras do que no período da Grécia clássica, ainda que a homossexualidade tenha também sido considerada um costume cultural em certas províncias. Em ambos os casos, a cultura antiga dos gregos e romanos (também egípcios) traz a principal ideia hedonista em um modo inspirado, evocativo ou dedicado ao prazer como estilo de vida - uma admiração inevitável, em especial por aqueles que não se sentem confortáveis nas normas de repressão sexual e comportamental vindas com o cristianismo.

Claro que o termo homossexualidade aqui é pelo contexto moderno, não existindo porém este conceito naquela época, haja vista que a regra parece ter sido a bissexualidade, com diversos autores antigos reconhecendo, por exemplo, que, na Roma Antiga, havia homens que mantinham relações sexuais exclusivamente com outros homens.

No cinema e nas séries, bem como numa infinidade de publicações (especialmente gays), o fascínio pela antiguidade clássica perpetua mitos e heróis, como Eros (ou Cupido) e Psiquê, retratando a união entre o amor e a alma, a comédia didática Asterix e Obelix, Spartacus, tema das séries Spartacus: War of the Damned e Spartacus: Vengeance, e das versões em longa metragem de 1960 e 2004, além de Spartacus: Gods Of The Arena, de 2011 - sendo a indústria cinematográfica a maior responsável na formação deste imaginário arcaico e fascinante, porém, suposta e sexualmente muito mais liberal (ou libertino) que os tempos atuais. A garantia de sucesso é tanta que diversos remakes são realizados, retratando época e histórias que sempre encantaram as pessoas. Assim, temos os épicos Ben-Hur (1959), Hércules (1959, 1960, 1961, 1983, 1985, 2005 e 2014), Fúria de Titãs (1981 e 2010), Calígula (1979), 300 (2006), Alexandre (2004), Tróia (2004), Gladiador (2000), Átila, o Huno (1954 e 2001), Augustus (2003), entre tantos outros, incluindo os filmes bíblicos, que fazem seus espectadores terem verdadeiras aulas de história, cheias de detalhes significativos (simbólicos), satisfazendo a curiosidade em ver com os próprios olhos como era a vida nessa época tão distante - uma viagem no tempo.


Agron & Nasir Spartacus: War of the Damned

Assim como no game Ryse son of Rome, os produtores também não economizam ao escolher os mais belos atores para viverem os tais 'gregos, ogros e troianos'. Tendo como referência a própria beleza clássica, os cineastas reafirmam o encanto por homens fortes e viris (verdadeiros touros musculosos) para viverem os mitos, gladiadores e centuriões romanos, sempre com o corpo exposto, com peitoral e braços gigantes, e recorrentes lances de nudez. A propósito, um dos bombados mais conhecidos e pioneiro no halterofilismo (a melhor mão de obra para estes tipos de filmes), Arnold Schwarzenegger, ficou famoso com o sucesso que fez no filme Conan, O Bárbaro, de 1982 - um clássico das "sessões da tarde".

As gárgulas habitam as igrejas e prédios góticos, na função de proteger o local.

É onde entra também o fetiche, atrelando aquelas figuras, roupas e acessórios a suas histórias, seja ela verídica ou lendária, real ou abstrata, puramente conceitual. Certamente é uma das vertentes do mercado erótico e pornográfico, incluindo filmes e vídeos adultos com cenas de sexo entre supostos personagens da antiguidade. De gladiadores romanos a estátuas gregas, incluindo as gárgulas, outras criaturas (estranhas e monstruosas) fazem parte destas fantasias mitológicas, como os seres híbridos, metade homem, metade bicho (minotauro, fauno ou sátiro, centauro e elfo), bem como o "Amor Platônico" em se apaixonar, ciente de não haver nenhuma possibilidade de realizar de fato os desejos carnais - um tipo de sentimento facilmente identificável pelos gays, principalmente por aqueles mais enrustidos ou que tiveram a infelicidade de se apaixonarem por um heterossexual.

Veja abaixo mais Vídeos e Fotos relacionados a este universo de símbolosmitos, lendas e monstros da Antiguidade, exemplares clássicos do imaginário homoerótico:


Cool role play with Roman soldier and group gay fucking with bdsm elements


Vintage Gay S M  Centurians Of Rome, Part 2

5 comentários:

  1. que pena que perdi esse post adoro sacanagem na antiguidade adoro assistir hercules e outros da mitologia fred tem como fazer um post sacanagem e mitologia??

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    1. tô rascunhando mas tem pouca coisa... se tiver links vídeos fotos afins envia pra mim ok ;)

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  2. que leitua interessante, ajudando e expandindo pra caramba minhas pesquisas ;)

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  3. Sebastiene, 1976 sena 2min http://homemrg.tumblr.com/post/143459052864/sebastiene

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