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21 de nov. de 2015

Gerontophilia - um filme de Bruce LaBruce

Cinema: Daddy 

Na direção contrária da controversa "pederastia", mas no mesmo sentido, na relação sexual e, ou afetiva entre homens mais velhos e jovens, o filme Gerontophilia (2013), dirigido pelo irreverente Bruce LaBruce (L.A. Zombie), é uma assumida versão gay do clássico Ensina-me a Viver (1971), de Hal Ashby, cujo romance tem ainda mais surpresas. Veja o filme completo Gerontophilia (legendado):


Gerontophilia - Filme Gay (Legendado) 2013

Sinopse

Lake (Pier-Gabriel Lajoie), um jovem de 18 anos de idade, começa a perceber uma forte atração por homens mais velhos. Esta admiração faz Lake, ao contrário da maioria das pessoas¹, visualizar uma sedutora beleza na velhice, imaginando como os idosos um dia foram jovens vibrantes e atraentes como ele. Quando sua mãe começa a trabalhar em um asilo e lhe oferece um trabalho na casa de repouso, Lake vê então uma oportunidade perfeita para descobrir até onde vai a sua fixação.  ¹ Conforme a Pesquisa Homem RG, apenas 7,5% dizem preferir homens acima de 40 anos, sendo a maioria deste universo, 70%, tendo no máximo 30 anos de idade. 47,5% destes homens preferem se relacionar ou se sentem atraídos por outros de até 30 anos, na mesma faixa etária - 10% não ligam para idade.



Romance: Lake e Mr. Peabody
Por Fred G. [ Contém spoiler! ]

Exibido nos festivais de Veneza, Toronto, Reykjavik e Rio, quem for ver o filme, com o sugestivo título Gerontophilia, esperando por transgressões, ousadias narrativas, imagens e discursos provocativos, poderá se decepcionar, ainda que no melhor dos sentidos. O que se percebe deste longa metragem, uma versão gay do clássico Ensina-me a Viver (1971), de Hal Ashby que, por sua vez, baseou-se em Harold and Maude (um roteiro escrito por Collin Higgins e publicado como romance naquele ano), é uma história de amor, porém, protagonizada por dois personagens bem fora dos padrões do romantismo tradicional, o que traz junto uma série de questionamentos aos regramentos sociais e de vida, ao que entendemos como beleza, filia, e tudo no formato de uma simplória, porém, inusitada comédia romântica (ou romance menos pesado, mais leve).

Cansado dos estudos e sem ânimo para qualquer outra coisa, Lake se anima quando ganha a oportunidade de ir trabalhar em um asilo como cuidador. E é neste contato diário que ele e, principalmente, o espectador começam a desdobrar o que seria aparentemente um fetiche ou simples desejo por homens que poderiam, facilmente, serem seus avôs. Ora fixação, ora afeto, o filme traz então um verdadeiro romance gay quando Lake conhece o octagenário Sr. Peabody (Walter Borden), que foi abandonado pelo único filho e é encarado como uma vergonha pela família por causa de sua homossexualidade.


Numa espécie de interesse mútuo ou paixão à primeira vista, a vivacidade dos sentimentos de Lake é explicitada através de uma atitude altruísta, deixando claro ao espectador que não se trata só de fantasia ou curiosidade sexual. Aliás, parece também proposital o perfil dos personagens, um belo e atraente garoto de 18 anos e um velho caquético, pobre e acamado, descartando as hipóteses de interesse financeiro ou até mesmo de busca por um "protetor" (pai), haja vista que é Lake quem ajuda e apoia, presenteando não só com sua beleza e frescor jovial (cobiçado pela maioria dos adultos), mas especialmente com sua companhia e atenção - aquele calorzinho tão necessário, principalmente nos momentos difíceis e solitários da vida.

Mas também não induz a pensar necessariamente em compaixão, no sentido de um ato de caridade por dó. Antes de conhecer o Sr. Peabody, Lake já apresentava admiração e desejo pela aparência enrugada dos velhos, bem como pelo porte meio encarquilhado, desenhando belos retratos de modelo-vivo (e idosos), além de já ter tido outras experiências eróticas e sexuais, inclusive com uma garota bem gata. Vendo as fotos antigas do companheiro, de quando ele era jovem, Lake responde um firme "prefiro agora!", ao ouvir o amigo se defendendo vaidosamente daquela época, dizendo que era mais bonito (e agora não, por conta da velhice - uma atitude normal na nossa cultura, que geralmente associa beleza ao que é novo).

Em comparação com os demais trabalhos, Gerontophilia pode ser considerado o filme mais comportado de La Bruce, um realizador conhecido pelo uso da pornografia na sua estética e unidade, do sexo explícito e da violência carnal em suas produções, contudo, sem deixar de ser controverso na sua essência e por inteiro - uma adaptação de temas tradicionais do tabu sexual, porém, em um filme mais palatável ao público em geral, ainda que este seja "diferenciado" ou "alternativo", como dizem.




A discussão vai além de como é possível haver amor e desejo entre duas pessoas com mais de 60 anos de diferença em suas idades, embora não descartar a mensagem de como fazer um relacionamento dar certo: a ausência do egoísmo ou o uso do próprio em favor também do outro.

Peabody é um senhor experiente, maduro, que sabe estar em sua reta final, e quer aproveitar ao máximo estes últimos momentos de liberdade – seja com Lake ou não. Por outro lado, o garoto se entrega por inteiro neste sentimento que não entende por completo, mas que ainda assim busca vivê-lo sem medo. Cada um, a seu modo, com suas razões, cabendo ao espectador compreendê-las ou não, bem como realizar seus próprios julgamentos e conclusões.


A gerontofilia 

Conforme os dicionários, a gerontofilia (grego: geron, que significa velho; e philieamor) é considerada uma parafilia, em ter atração sexual por idosos. Ainda de acordo com o que dizem a respeito, algumas mulheres jovens, geralmente adolescentes, apaixonam-se facilmente por homens mais velhos, bem como garotos que se interessam por homens já adultos e, inclusive, por coroas, também chamados de maduros (oldersilver), etc. Nestes estudos e definições oficiais, a atração por velhos de cabeça branca é considerada desvio ou transtorno mental gerado na infância, com frustrações relacionadas às figuras paterna ou materna.

Na sua origem, a gerontofilia está na percepção, por um muito jovem, de um adulto como o seu ídolo, modelo de referência ou herói. Muitas vezes, as crianças tentam compensar por conta própria a falta de atenção, ausência de relacionamento com os pais e a falta de cuidado por parte dos adultos. Assim, os gerontófilos preferem como parceiros pessoas idosas, ou, pelo menos, que sejam significativamente mais velhas, numa forma de compensação emocional.

A psicanálise também considera a gerontofilia uma manifestação do complexo de Édipo – atração reprimida pelo pai ou pela mãe. Contudo, esta filia entre jovens e adultos, inclusive erótica, já foi considerada totalmente normal e até protocolar - a Antiguidade Clássica é famosa pelas arenas de gladiadores e também pela cultura dos ginásios greco-romanos, com relações íntimas (independente se com ou sem sexo) entre os jovens alunos e seus professores. Nesta época, uma tutela como mestre incluía uma educação integral, especialmente sobre sexualidade, questões existenciais (filosofia), além da lógica e da educação física - corpo e espírito. Afinal, estamos falando do surgimento da Beleza como disciplina, a estética, e as primeiras teorias educacionais, considerando todas as vertentes, especialmente o prazer sensual.

A propósito, em todas as culturas primitivas, especialmente a indígena, o respeito aos mais velhos e o grau de importância que estes têm para responder todas as dúvidas dos mais jovens, inclusive os questionamentos místicos, é uma das característica do estilo de vida e padrão social que se vive há milênios. O mesmo para o papel dos mais velhos entre os orientais, também com a chancela e o poder de decidir questões tradicionais, de postura, através da incontestável experiência conquistada com a maturidade.


Bruce LaBruce

O polêmico cineasta canadense Bruce LaBruce (1964) é também ator, escritor, fotógrafo e diretor de filmes independentes e adulto, sendo uma das principais referências na cena gay underground. Seus filmes exploram temas de violência sexual a transgressões contra as normas culturais, frequentemente misturando técnicas artísticas e de produção de cinema com a pornografia gay.

Formado em cinema na York University, em Toronto, LaBruce escreveu para a revista Cineaction, chamando atenção do público com a publicação no fanzine punk J.D.s, que ele co-editou com G.B. Jones. Atualmente, escreve e fotografa para uma variedade de publicações, incluindo Vice, Nerve.com e a revista BlackBook, bem como já havia sido um dos colunistas da revista de música canadense Exclaim!, editor e fotógrafo para a Index (NY) e foi assunto de matérias especiais da Toronto Life, do National Post e do The Guardian.

Seu estilo cinematográfico é marcado por incluir cenas pornô, representando variadas vertentes do sexo, com narrativas técnicas e de cinema. Aliás, seu interesse por temas extremos, chocantes ou com tabus que ainda perturbam a maioria das pessoas, sempre traz cenas de nudezfetiche e parafilias, BDSM, estupro coletivo, amputados, violência interracial, prostituição (feminina e masculina), incluindo ereção e masturbação, e até a suposta sexualidade dos zumbis e vampiros, haja vista a amplitude de suas criações.

Bruce LaBruce: Pere Projects, Meat Marketing
Pierrot Lunaire 2011 - Bruce LaBruce



Bruce LaBruce - Skin Flick / Skin Gang (1999)

Bruce LaBruce é frequentemente identificado com o movimento subversivo New Queer Cinema, surgido na década de 1990, embora em seu auge tenha rejeitado esta associação, com o fundamento de que se sentia pessoalmente mais alinhado com um movimento ainda mais específico, o queercore. Este, por sua vez, nasceu na década de 1980 e LaBruce foi certamente um dos pais deste gênero, pioneiro na vanguarda de uma resposta gay neste nicho, expressando o mesmo descontentamento com a sociedade que os punks originais.

Entre outras curiosidades, seu filme Otto or Up with Dead People (2008) teve sua estreia no Sundance Film Festival. Já L.A. Zombie (2010), uma das principais obras de seu portfólio, foi banido do Melbourne International Film Festival, na Austrália, por conta da sua classificação indicativa², estreando portanto no Melbourne Underground Film Festival e no Locarno International Film Festival na Suíça (2010) - a superprodução pornográfica, que trazia no elenco os atores pornô Matthew Rush, Erik Rhodes, Francesco D'Macho, Wolf Hudsono e o pornstar François Sagat no papel principal, integrou posteriormente o festival internacional de cinema gay e lésbico da Nova Zelândia, em 2011.  ² Na lei australiana, filmes que tem sua classificação negada são proibidos de serem importados, vendidos, distribuídos ou serem exibidos em eventos públicos. 

Em março do mesmo ano, LaBruce dirigiu, do compositor austríaco Arnold Schoenberg, a ópera Pierrot Lunaire, no teatro Hebbel am Ufer, em Berlim. A apresentação incluía diversidade de gênero, cenas de castração e até uso de dildos, mostrando um Pierrot transgênero. Em seguida, ele também filmou essa adaptação, já em 2014, gerando o filme teatral Pierrot Lunaire.

Em Gerontophilia (2013), porém, LaBruce deixa um pouco de lado os aspectos sexualmente explícitos, seu estilo cinematográfico (inclusive estético), mantendo o interesse em explorar os tabus sexuais, dramatizando um relacionamento entre gerações distintas (um jovem e um idoso), na intenção de fazer um filme que abrangesse um público maior e até convencional.

Foto:
Homographias by Bruce LaBruce Tumblr

Entre os curtas: Boy, Girl (1987), I Know What It's Like to Be Dead (1987), Bruce and Pepper Wayne Gacy's Home Movies (1988), co-dirigido com Candy Parker, A Case for the Closet (1992), The Post Queer Tour (1992), Slam! (1992), Come As You Are (2000), Give Piece of Ass a Chance (2007), The Bad Breast, or The Case of Theda Lange (2010) e Weekend in Alphaville (2010). Longas: No Skin Off My Ass (1993), Super 8½ (1994), Hustler White (1996), escrito e co-dirigido com Rick Castro, Skin Flick / Skin Gang (1999), The Raspberry Reich (2004), Otto; or Up with Dead People (2008), L.A. Zombie (2010), Gerontophilia (2013), Pierrot Lunaire (2014) e Ulrike's Brain (2015). Além de toda esta obra, LaBruce é autor dos livros The Reluctant Pornographer (1997) e Ride Queer, Ride (1996). Veja abaixo, na lista de reprodução, trechos dos principais trabalhos de LaBruce:

3 comentários:

  1. Como amante de filmes que sou, esse filme -Gerontophilia- vai ficar guardado na minha memória. Amei é lindo, gdo comecei a assistir lembrei na mesma hora do filme -Ensina-me a viver-, que perdi a conta de qtas vezes vi. Uma senhorinha simpática e um garoto que tinha umas brincadeiras mórbidas sempre espantando as namoradas que a mãe dele arrumava. Uma bonita história de um garoto que se apaixona por uma senhora de quase 80 anos.
    Voltando ao filme em questão, fiquei com peninha do Sr. Peabody, não ter conseguido chegar ao Oceano Pacífico, mas respirou o ar puro que tanto queria. Esse rapaz Lake, super sensível, juntamente com seu companheiro idoso viveram momentos de pura paixão, quase chorei na hora que ele foi contar pro seu parceiro que estava apaixonado, e o mesmo tinha morrido e não pode ouvir a declaração, aliás tem alguns diálogos na trama que eu achei sensacional, uma delas é qdo o Lake fala para o Sr. Peabody que adorava as rugas dele, muito legal.

    Tem um ditado que diz. "A beleza está nos olhos de quem vê" e cabe muito bem neste filme.

    Filme lindo, romântico, sem vulgaridade e mostra bem o que é o Gerontophilia. Bom demais, adorei. Parabéns pela postagem. Abraço.

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  2. eu vi esse filme maravilhoso esses sias no canal Max, é muito interessante, gostei pra caramba e o garoto protagonista é um tesão!!! ;)

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  3. Olá Fred! Você conhece algum outro filme desse gênero pra indicar? Gostei muito de Gerontophilia e como me identifiquei um pouco, gostaria de ver mais. Obrigado!

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