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11 de fev. de 2015

Cruising e a pegação de dentro do armário

Cruzeiro do sexo

Seja num banheiro de rodoviária ou de aeroporto, o WC Masculino possui uma antiga tradição em ser também um local de pegação entre homens. Afinal, são nestes locais que temos a chance de ver o pau do outro no mictório e, dependendo, até de fazer algo mais - a velha piadinha: "Sua mão tá limpa?!"

Na mesma ideia, diversos outros espaços são utilizados para a paquera gratuita, alguns exclusivamente, para a pegação gay. São locais públicos, bastante ou pouco movimentados, geralmente com algum chamariz estratégico como banheiros, moitas de parques, clubes, construções e lotes abandonados, beira de estrada e paradas de caminhoneiros, ou em estabelecimentos mais específicos e direcionados aos encontros sexuais casuais: cabines eróticas, cine pornô, saunas, bares, boates, etc.

Também de uma forma geral, os frequentadores destes cruzeiros de sexo (cruising for sex) são conhecidos pelo termo "discreto", onde fazem gosto pelo anonimato e utilizam a pegação gay como um lugar secreto, para satisfazerem seus desejos homossexuais de forma livre, porém, levando em conta que no dia a dia estes levam uma vida discreta (ou aparentemente heterossexual).


Saída pela tangente...

Inicialmente, o tal "armário" pode ser tanto real quanto ilusório, e assim vejamos alguns exemplos: o homofóbico é aquele que tem dificuldade de sair do armário até consigo mesmo; ser casado ou enrustido e só sair do armário na pegação discreta; manter-se dentro do armário até em locais de pegação, preferindo transar escondido em reservados... Assim, o "armário" é realmente uma piada ou podemos entendê-lo como esboço ou silhueta de uma suposta ou real intimidade.

Sendo adepto (assíduo) ou não da pegação gay, os homens costumam separar as coisas, desprendendo sexo de relacionamento afetivo, amizades, etc. Na era dos profiles então, as possibilidades de vida dupla transitam entre o real e o virtual, ou entre o que cada indivíduo busca de fato e aquilo que aparenta para a sociedade.

Na internet, assim como não precisamos falar a verdade, logo, sermos quem bem entender, as oportunidades de encontros para sexo sem compromisso (além dos romances e paqueras) ficaram ainda mais fáceis e diversificadas. É ter um gigantesco painel na palma da mão, com tipos infinitos de gente para escolher, a qualquer tempo e lugar. O que antes era necessário assinar uma caixa postal e publicar anúncios sex em revistas de sacanagem, ou ir com a cara e com a coragem nos inferninhos, agora basta alguns minutos na webcam, em chats, redes e até guias específicos, para marcar encontros ou satisfazer-se por ali mesmo.
Leia mais sobre Cruising em sites de encontros, por telefone ou redes sociais: Grindr, Scruff... ou GayChat?

Para aqueles que não querem (ou não podem) sair do armário e, ao mesmo tempo, tem outros infinitos motivos para quererem dar uma "fugidinha" por aí, sem maiores compromissos e sem alardes, escondido, a pegação gay se torna quase inevitável. E, arriscando a dizer o porquê disso, talvez seja pela dificuldade que a maioria dos homens ainda tem em cantar outro macho na rua, por exemplo - quem vai se aventurar?! Assim, nos locais de pegação, estes entraves deixam de existir, ficando implícito que todos ali querem a mesma coisa.


Pegação de Carnaval

Qual o sinônimo de Promiscuidade? "... denota um comportamento sexual desregrado ou sem regras determinadas, de sexo casual entre pessoas conhecidas ou não entre si. Não se deve confundir com poligamia. A promiscuidade é relativamente comum nas espécies animais, ocorrendo inclusive em espécies que formam casais, como nas relações extra-conjugais".

Esta definição se limita ao estado de espírito da relação sexual sem maiores compromissos. O termo "pegação" vai além, definindo o comportamento ou o que fazem aqueles na hora de caçar sexo ou uma simples sacanagem. Pegação de só pegar mesmo - passar a mão, masturbação, manja rôla... Ou sexo oral, anal, agressivo, grupal, gangbang, entre outros requintes, e até momentos de pura ternura e afeto.

Na cultura hétero, o termo pegação ou cruising representa qualquer oba-oba, como acontece durante o carnaval de rua, com gente se beijando aleatoriamente, sem medo de ser feliz ou de dar câimbra na boca. Junto vem o sexo sem compromisso, as experimentações no assunto 'prazer e desejo', as curiosidades... Onde se diz que "ninguém é de ninguém" e a quantidade ou qualidade erótica são mais importantes que os próprios relacionamentos em si. Aliás, pessoalidade não é muito bem vinda nestas horas, com vistas para o acaso e ao desconhecido.

Pegação no banheirão da rave TW Floripa

Seja pela ótica heterossexual ou gay, há lugares afins à pegação, como bailes funk, na balada, forró rala-coxa, mela-cuecas, além dos puteiros, clubes privê, de swing, surubas, etc. A onda destes locais, bem como no Carnaval e outras muvucas é de pura curtição, na bebedeira, doidão ou sóbrio, pagando ou de graça, mas sempre a "festa da carne". "No Carnaval, pode!". E assim, muitos se soltam, liberam suas fantasias durante a festa e depois voltam ao seu envólucro discreto, quando fora dela. Vestir-se de mulher, por exemplo, e querer que aquela fantasia se torne real ou mais picante, no sentido de cumprir com o papel, incluindo as experiências sexuais como tal. Ou sair por aí mascarado ou camuflado, usando o anonimato para só fazer barbaridades... Novamente o "armário", ainda que em público.


Linguagem codificada

O termo cruising como pegação surgiu na gíria gay como um código para que os outros ao redor não sacassem que se estava falando de sexo, além de um sinal para os afins perceberem. A partir da segunda metade do século XX, a discriminação contra o comportamento homossexual se tornou cada vez maior nos países de língua inglesa, criando-se assim os códigos, gírias ou dialetos específicos como barreiras de proteção dos gays, sendo hoje, assim como a sua tradução "pegação", usado também pelos heterossexuais - Leia mais: Portugay e os termos que saíram do armário.

Ainda sobre as formas mais comuns de pensamento masculino*, mais instruído na pornografia, os locais de pegação gay são frequentados basicamente por homens. A presença heterossexual ocorre mais facilmente através dos homens chamados "curiosos", gays enrustidos ou casados, que buscam experiências extraconjugais e homossexuais. Por sua vez, estes tipos de homens gays ou bissexuais geralmente não frequentam bares ou boates gays, mantendo os relacionamentos fora do convencional bem trancados no armário* De acordo com a Pesquisa Homem RG, uma significativa parcela de 34% dos homens que a responderam não se relacionam afetivamente, preferindo 'somente sexo'. Na distinção entre sexo e relacionamento afetivo, 26%  assume somente fazer sexo sem compromisso e 48% o faz em relacionamento sério ou casual. São 8% que transam apenas com desconhecidos e, para 59%, tanto faz. Assim, apenas 33% se dizem transar somente com conhecidos. Entre o exibicionista e o voyeur, 56% gostam de ver uma transa ao vivo, contra a metade, 22%, que gostam que fiquem olhando. E para o tal "discreto", 90% se diz másculo, com os iguais 92% tendo os mais másculos como o tipo de homem que os atraem mais - o "discretasso". 

Ultra Rare Vintage Hidden Camera Tearoom (1962)

Caught (Pegos) 2010 Completo - Inspirado no vídeo Hidden Camera Tearoom (1962)


As possibilidades de interação entre os pegadores vão de uma simples pegada, toque (o que gerou o termo pegação) ou uma punhetinha rápida, até o sexo com penetração ou grupal. Isso vai de acordo também com o ambiente de pegação - o que podemos fazer num clube sadomasoquista pode não ser possível em um movimentado banheiro público, por exemplo.

Ou a pegação limitada em um condomínio, a uma escola, ambiente de trabalho ou, entre os locais públicos, se o lugar é especialmente criado para interações sexuais (bares, clubes, saunas, cine pornô, cabines, etc.) ou frequentado por todo tipo de gente, inclusive heterossexuais, como nos banheiros de parque, rodoviária, aeroporto e shopping. Por outro lado, como tudo hoje é vigiado e filmado, a adrenalina em subverter estes limites entre intimidade, anonimato e pessoalidade acaba também fazendo parte destas investidas em locais públicos movimentados.





Na sua origem, a pegação traz uma série de códigos e lugares comuns em diversas partes do mundo, como bosques, parques e florestas, "no meio do mato" e em plena 'expedição'. A caminhada ou o cooper pela noite a fora, as longas horas determinado a encontrar alguém ao acaso, os diversos sinais e abordagens, com encontros que dispensam as falas ou conversas, norteando-se apenas pelas atitudes e comportamentos específicos de quem procura sexo.

Uma encoxada no ônibus, um volume de pau duro no metrô, no avião, na feira, no supermercado, em qualquer lugar, sem precisar dizer nada, porém, deixando claro as reais intenções. E isso os gays estão escolados, podemos assim dizer, principalmente com relação ao preconceito e discriminação de séculos, onde é mais proibido dizer-se gay do que praticar de fato (às escondidas) a homossexualidade. Assim, os códigos, olhares, aquela levantada safada na camiseta, pegadas discretas no pau, brincar de lutinha... Tudo se valia como sinal, onde não se podia expressar abertamente estes desejos.


Mais referências

Nos anos 60, os jovens se conheciam praticando footing, um passeio informal, nos jardins da igreja ou da praça, onde as moças giravam num sentido e os moços noutro. Em cada volta, por duas vezes se cruzavam os olhares em flertes prolongados.

O uso do termo cruising também varia regionalmente, como toda gíria. Nos EUA, denota em geral o comportamento exclusivamente homossexual. Na Austrália e no Reino Unido, no entanto, serve para ambos, homo ou hétero. No Brasil, também, mas se distingue do que os héteros chamam de pegação na balada, sendo a pegação gay uma modalidade com mais especificidades e, digamos, mais abrangente.

Al Pacino em Parceiros da Noite (Cruising, 1980)
Nos anos 70, cruise estava no nome do bar gay Foxes Booze 'n' Cruise, localizado no Novo México. Antes de fechar, o negócio sofreu críticas por supostamente incentivar dirigir embriagado, por alguns que não entendiam o uso histórico do termo.

O "Cruzeiro do sexo" é mencionado em canções como Cruisin 'the Streets, por Boys Town Gang, bem como "Eu sou um Cruiser" pelos Village People.

Em 1980, o diretor William Friedkin fez o filme Cruising (Parceiros da Noite), estrelado por Al Pacino. O longa introduzia a chamada cultura gay e vários dos seus códigos linguísticos, embora os ativistas LGBT acharem que é uma representação negativa da comunidade gay, protestando a produção.

Filme Cruising (Parceiros da Noite) Completo e dublado

Tudo porque o filme tinha como ambiente os locais gays da época, que eram os mesmos que hoje temos como locais de pegação: boates, bares, parques e banheiros públicos. O agente Steve Burns (Al Pacino) foi incumbido de investigar uma série de assassinatos de gays em Nova York. Com a intenção de se infiltrar no meio, o policial aceita o desafio de se passar por gay, sabendo que terá que frequentar a comunidade e mergulhar nos clubes de sadomasoquismo, locais frequentados por algumas das vítimas do serial killer.

Assim, os ativistas acreditavam que a história e suas imagens poderiam estigmatizar negativamente os gays, como se todos fossem daquela maneira apresentada nas cenas: promíscuos. E isso não era simplesmente um mimimi. Naquela época, o comportamento gay era limitado em acontecer em guetos, sendo todo resto de forma muito enrustida. Logo, havia e ainda há uma enorme carência dos gays em se verem representados nas mídias, porém, dispensando os clichês ou o que a maioria das pessoas já tinham em mente como 'figura homossexual'.

Aos olhos de hoje, o filme é um clássico do cinema e um marco para a representação LGBT, ainda que abordando apenas um lado específico, envolvendo a homossexualidade. Esta se apresenta então como plano de fundo da história de um assassino em série, por ser uma das características das suas vítimas. Um filme policial ou de terror, que faz também muita crítica, especialmente relacionada à homofobia policial (que é a mesma entre não-policiais).


Sex business

Sabemos que a pegação gay é auto-suficiente, com seus códigos específicos e locais de livre acesso. É o que chamamos também de mercado, com uma série de empresas voltadas ao atendimento deste público. Assim, surge também o "cruzeiro gay", propriamente dito, propondo agenciar sua viagem com city turs em lugares de pegação. São boates gays, spas e resorts (saunas), bares, praias, etc., começando pela escolha do hotel, com sua administração interessada em agradar a todos os clientes, incluindo os gays.

Por outro lado, os lugares undergrounds nem sempre estão no subsolo, alguns, bem abaixo do nosso nariz. São como ambientes paralelos a uma realidade mais objetiva, como as nossas obrigações, onde temos que fazer uma série de coisas práticas no dia a dia. A pegação e seus points funcionam como um lugar à parte, especialmente para nossos desejos e fantasias eróticas poderem se aflorar, com o medo instigante pelo desconhecido e, por sua vez, com a segurança em fazer o que realmente quer, fora das vistas dos conhecidos ou da moral social.













Nestes locais de pegação (abertamente), a questão do voyeurismo versus exibicionismo vem à tona, consolidando-se na certeza que todos gostam de ver, mas nem todo mundo gosta de ser visto na intimidade. Em outras palavras, o fato de querer fazer o que fazem os atores pornô ou putos profissionais não quer dizer que queira também ser protagonista de um filme erótico ou show de sexo explícito.

Punheta no Táxi

Seja no escurinho do cinema, no dark room, glory hole ou na rua, nas pedras de uma praia pouco movimentada, atrás do muro, no beco... O prazer em confessar os desejos mais íntimos e, ou secretos com desconhecidos, alia-se à segurança de não ser depois 'denunciado para a sociedade'. Afinal, é um ato íntimo, ainda que o praticante seja extremamente exibicionista.

Neste sentido, assumir-se um 'devasso' pode ser uma atitude opcional, uma necessidade, obrigatoriedade ou impossibilidade, mas cumprir com os nossos desejos sexuais é simplesmente inevitável - acabamos fazendo de um jeito ou de outro, nem que tenhamos que levar a tal pegação para dentro do armário.



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2 comentários:

  1. Eu sou de temperamento passivo,mas nesses ambientes,eu prefiro ser o ativo.Eu acho que a pegação entre homens é facilitada pela genitália ser pra fora.Da mulher é pra dentro.

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  2. Acho, sempre achei, difícil saber em lugar público se alguém quer sexo com você, não tenho o "gaydar", infelizmente. Mas em lugares como cinemas e, principalmente, saunas a pegação é clara. Se você põe a mão no pau dele, ou esfrega sua bunda nele, se ele quiser mostra claramente. E ao chegar num lugar destes fico logo excitado e o o lugar onde mais me sinto viado.

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