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22 de dez. de 2013

Portugay e os termos que saíram do armário

Aulas de Bichês

Toda tribo tem sua linguagem própria, compartilhada dentro da turma como uma espécie de código secreto ou pessoal, possibilitando conversar em uma fala estranha para os ouvidos alheios.

Na cultura gay masculina, o chamado dialeto, criado e inspirado nas línguas africanas nagô e yorubá, usadas no candomblé, era também praticado nos guetos e inferninhos LGBT (este, um termo relativamente novo).

Principalmente pelos travestis, inicialmente na marginalidade da caçassão nas ruas, tendo que se comunicarem por códigos que só eles entendiam (entendidos) - proteção, identificação e humor.

Na medida em que a comunidade gay foi se revelando e convivendo mais abertamente na sociedade, muitos desses termos foram saindo do armário, sendo falados também por héteros - na boca do povo! Vários famosos, homens e mulheres, modelos e artistas, também ajudaram a popularizar estas gírias, através da convivência com o mundo gay fashion, e seus maquiadores, cabeleireiros, coreógrafos, stylist...

As expressões gays mais populares são: (coisa ruim ou feia); mona (mulher); babado / bafo (confusão, fofoca); amapô amapoa / mapoa (mulher); biba / bil / bi / bee (gay); abafa! (de abafa o caso!); mona-ocó (mulher-homem / lésbica); aquenda (prestar atenção); arrasou!, abalou! Show! (fez muito bem); aqué (dinheiro); maricona (coroa); bicha pão com ovo (pobre); boy magia (homem gostoso); bofe (homem); tomar coió / ser gongado (vexatório, ser xingado - xoxado); neca, mala (pau); fazer carão (esnobar ou fazer pose); máfia (falar mal pelas costas); erê (menino); bafão (confusão)... e pegação! (se jogar na paquera ou putaria).

HUMOR:
Veja o vídeo Aprenda o dialeto gay, com Marcelo Adnet


Por ter sido uma cultura marginal, nascida nas ruas de prostituição de travestis e michês, o bichês ainda é mal visto entre as finas, que acham que dialeto é coisa de poc-poc. Mas, com as novelas, por exemplo, cada vez mais com personagens afetadíssimos falando portugay legítimo, muito dessas gírias merecem até um dicionário para os mais curiosos e simpatizantes.

Na versão de 2010 da novela Tititi, praticamente o texto inteiro era na linguagem falada pelas gays, incluindo os termos fashion. Também tem a série Pé na Cova, que é cheia de personagens bafão, e todos adeptos do dialeto gay.

Personagens como Crodoaldo Valério (Crô) e, atualmente, Félix, também promovem a expressão verbal típica das bibas.

Na sua origem, como em todo grupo fechado, as gírias próprias servem para identificar o outro como da mesma tribo e, se for um código mais regionalizado ou de um pequeno grupo de pessoas, para comunicar com os amigos, sem que aquele que não faz parte da panelinha entenda bulufas de nada. Muito bem vindo nas horas de aperto, alertando a amiga sem o bofe perceber. Ou fazendo uma mafiazinha, comentando o modelito horrendo da bicha uó.


Ortografia Gay

Algumas expressões são utilizadas desde muito tempo, outras mais recentes e aquelas que mudam com o passar do tempo, das novelas e mimes, e cada vez mais compartilhadas nas redes sociais - a atual rua virtual. Como a grande pinta está na maneira de se expressar, o internetês também tem seu lado colorido, com escritas do tipo xóvem (jovem), e interjeições como adogo ou atórum (adoro), nhaí! e aloka!



















O estilo gay na fala pode também está presente na maneira de pronunciar as palavras, inclusive usando o superlativo como chiquérrimo, belíssimo... ou, ainda em outros exageros: bofe escândalo... um luxo! Uma característica universal, presente na gíria gay de qualquer lugar do mundo. Aliás, o humor gay é capaz de assimilar coisas do tipo: tô begerosa chiclete ou nude, para dizer que está passada!

Veja o Dicionário Gay, com os termos mais utilizados no Brasil:


Dicionário Gay

A
Abalar: fazer algo bem feito; de abalar as estruturas
Abatar: sapato
Abusada: biba metida; auto-confiante
Alibã / Alibam / Ali: policial
Agéum / Ajeum: comida
Amapô / Amapoa: mulher
Angélica: táxi (vou de angélica)
Aqué / Acué: dinheiro (também chamado de Arô)
Aquenda / Acuenda: pedindo para prestar atenção
Armário: gay não assumido; enrustido
Arrasar: ter excelente performance; falar bonito; arrasa bi!; parou tudo!
Assumido: gay assumido
Ativo: no sexo é quem come
Azuelar: roubar; arrebentar, alargar, arrombar

B
Babado: acontecimento qualquer; fofoca; confusão; babado forte, assunto quente
Babadeira: travesti que arruma confusão (babado)
Badalação: ferveção, agito; balada; sucesso
Bajubá: bate-papo; conversa de puta
Bandeira: dar pinta, se deixar perceber (bandeirosa)
Barbie: musculoso
Barroca: mulher velha
Basfond / Bafão: confusão
Batalhar: prostituir-se
Bater bolo: punheta
Bater peruca / picumã: jogar o cabelo ou peruca (também para ignorar alguém)
Bem: algo bom; ele é bem, Maria! (ele é bonito)
Biba / Bil / Bi / Bee: gay
Bicha-bofe: gay másculo
Bofe: heterossexual ou homossexual ativo
Bofescândalo: homem gostoso
Boneca: travesti
Bombar: tomar bomba (remédio) para transformar o corpo em trava ou barbie

C
Caçar: pegação; procurar sexo
Carão: pessoa bonita; esnobe
Caricata: drag queen engraçada, que não se importa com o modelo e sim com a piada; bicha comédia
Catar: paquerar; aquendar
Chanam / Xanã: cigarro
Cheque: cocô
Chuca / Xuca: lavar o ânus com a mangueirinha (para não passar cheque)
Chuchu / Xuxu: barba; barba mal feita
Coió: apanhar ou ser gongado
Colocação: bêbado ou drogado; ficar colocado
Cona: de Maricona (coroas)
Corre-corre: carro
Cunete: sexo oral no ânus, beijo grego

D
Dadá: pelo amor de Dadá!
Dar a elza: roubar
Dar close: dar pinta; dar uma olhada; marcar presença
Dar o truque: enganar; bicha truqueira
Desaquenda: sair fora
Dragão: muito feio
Dunda / Dundum: negro (a)

E
Edi: bunda; cu
Ebó: macumba
Elza / Elzeiro: ladrão (dar a elza - roubar)
Encubado: gay enrustido
Entendido: gay assumido
EQ / Equê: mentira; falso; biba equezeira
Erê: criança, jovem, menino

F
Fechar: dar pinta, mostrar-se gay afetado; também trancar - trancou tudo e jogou a chave fora
Fervo: diversão; festa lotada e animada - ferveção
Filha: peruca
Fina: biba rica e, ou elegante

G
GLS: Gays, Lésbicas e Simpatizantes
GLBTS; Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Simpatizantes
Gongar: falar mal de algo ou alguém; ridicularizar
Gravar: fazer sexo oral
Gritando: chamando atenção; se revelando, perceptível (também berrando)

H
Horrores: muito

I
Ilê: casa
Irene: velho

J
Jampô: seios; peitoral

L
Lady: gay feminino ou lésbica feminina
LGBT: Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais
LGBTI: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais

M
Máfia: falar mal pelas costas; fofoca; especulação negativa; fazer máfia - bicha mafiosa (maldosa)
Mala: volume entre as pernas; pacote; trouxa; pênis
Make: maquiagem
Maricona: gay mais velho (Cona); do espanhol maricon
Matim: pequeno ou pouco (neca matim - pau pequeno; aqué matim - pouco dinheiro)
Menina: Aids
Michê: garoto de programa
Mona: bicha, gay; de Monalisa
Montagem: travestir-se; produzir-se (montar)
Muco / Picumã: cabelo

N
Neca: pênis
Nena: cocô

O
Ocó: homem
Odara: grande, enorme; bem dotado
Olofô / Olofor / Ofofi: mau cheiro
Otim: bebida alcoólica
Oxó: camisinha

P
Pão com ovo: bicha pão com ovo (pobre, quaquá, poc-poc)
Passada: arrasada, chocada
Passivo: no sexo é quem dá
Pencas: muito, demasiadamente
Peruca: cabelo; bater peruca
Penosa: gay que não trabalha; encostado
Picumã: cabelo ou peruca
Pintosa: com aparência gay
Piscar: excitar-se
Pista: local onde travesti faz ponto
Podre: coisa ruim

Q
Quebrar-louça: paquera entre duas bibas (efeminadas)

R
Retetê: fazer intriga

S
Sapa / Sapata: de sapatão (lésbica)
Snif: cheirar (pó)

T
Taba: maconha
Tia: Aids, tia Sida
Tô bege: tô boba; perplexo
Tombar: atrapalhar; debochar; ridicularizar; fazer melhor
Traira: traidor
Truque: enganar; disfarçar; enrolar; maquiar

U
: algo ou alguém ruim, chato ou antipático

V
Valéria: cecê
Venenosa: mafiosa; de cobra venenosa; só no veneno
Veri: virilha
Versátil: ativo e passivo no sexo


Teste Interpretação de Texto
Veja como está sua fluência no portugay:

As travas chegavam na pista, enquanto os bofes nos seus corre-corres passavam afoitos e loucos para acuendá-las. No sábado à noite a pista fica florida... Além das bonecas, as bibas também costumam passar pelo local, pois é o caminho da badalação.

Algumas param e ficam no bajubá com as travas. É bom fazer a linha, afinal toda montada tem que ficar esperta, pois seu picumã pode ser azuelado a qualquer momento.

A erezada também passa de corre-corre, geralmente amontoados em quatro ou cinco, ouvindo música alta e embalados pelo otim. Ao passarem pelo point, saem na janela do carro e gritam com as travas (o bajubá é o de sempre): E aí, quanto tá a morte?O João tem futebol mais tarde?Ô sacuda!... Outros lançam catadas e não fazem a linha maldita de dar coió quando estão acompanhados de ocós. É claro que, quando estão sozinhos, ficam mais à vontade, e adoram aquendar a neca ou edi das bonecas! Entre muita confusão, babado e gritaria, sempre pára alguém interessado, e o vício segue frenético.

Dentro da boate, as monas fervem e a azaração é forte. As bibas dominam o cabaré... No darkroom não dá nem para entrar de tão lotado - o que é bem! No lounge, as bonecas também aquendam um otinzinho, só no truque para flertar com os ocós. Também tem muita amapô, o que não tomba com nenhuma biba que queira catar alguma neca. Uma das monas parecia gripada, com o peito cheio, de tão odara era seu jampô.

As últimas a entrar causando são as travas que ficaram batalhando até mais tarde, e com o xuxu berrando (a máfia!). Entre elas está Rosicléia, a babadeira... Essa é do babado mesmo! E ela adora dar a elza... Está colocadíssima no snif, e já vai logo toda conversada: Tô passada com os ali, mona. Levaram todo meu aqué! Preciso que me aquenda um arô, tô precisada de um otim urgente... Disse ainda que a night tinha sido , pois só tinha gravado uma cona por um aquezinho matim. Hoje, parecia que a bafonzeira fazia a linha fina em troca de uns bons drinks.

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